Leonardo Mendes Jr.
A Fifa terminou 2001 com R$ 2,4 bilhões em caixa. Um superávit que subiu
pouco no ano passado, R$ 68 milhões. Quantia modesta diante dos R$ 310 milhões
de lucro do ano anterior. Mas também nada que apavore Sepp Blatter e sua turma,
que já têm uma receita garantida de R$ 1,6 bilhão com a Copa do Mundo de 2014.
De olho na posteridade, a entidade também negociou os direitos de transmissão
dos mundiais de 2018 e 2022 – só nos Estados Unidos a venda rendeu mais de R$ 2
bilhões. Dá para os poderosos chefões da Fifa não caírem na mesma tentação de
Ricardo Teixeira e João Havelange, condenados na Suíça por terem recebido R$ 40
milhões em suborno. Troco de pinga perto dos R$ 25 bilhões que serão gastos no
Mundial pelo governo brasileiro.
Lembrei do lado financeiro de uma Copa e corri atrás desta numeralha toda ao
me deparar com outro número, amplamente divulgado na semana passada: 130 mil
pessoas se cadastraram para ser voluntárias no Mundial. Nada contra o
voluntariado. Vários avanços sociais foram e são conquistados pelo voluntariado.
Gente do mundo inteiro que põe suas habilidades profissionais à disposição do
próximo para oferecer atendimento médico, ensino qualificado, fortalecer
democracias, amparar quem mais precisa.
A Fifa e a Copa do Mundo, vamos combinar, não precisam dessa mãozinha.
Faturam bilhões e têm amplas condições de pagar por esse serviço importante para
que um evento deste porte aconteça. Vale o mesmo para o COI e os Jogos
Olímpicos.
Em primeira análise, se sujeitar a trabalhar de graça para um evento
bilionário é ingenuidade. Em segunda análise, é colaborar para que se perca uma
ótima oportunidade de deixar um legado de fato para o país.
Basta olhar para o Brasil. Milhares de jovens enfrentam dificuldades diárias
para entrar no mercado de trabalho, seja por falta de formação ou de
oportunidade. A dona Fifa poderia reservar uma quantia pequena – para ela – do
seu robusto bolo financeiro para capacitar e remunerar um monte de gente. O
Mundial iria embora, mas o conhecimento adquirido e, em alguns casos, a
oportunidade de emprego ficariam. Em países ricos, poderia ser um belo emprego
temporário de verão para apresentar a centenas de estudantes um mundo além dos
portões das universidades.
Sei que o voluntariado está na origem do espírito olímpico e que as pessoas
que se oferecem para trabalhar de graça querem, no fim, fazer parte de alguma
maneira de um evento desse tamanho. Extremamente nobre, mas na mesma medida
conveniente para quem, definitivamente, não precisa de tal filantropia. Então,
caro voluntário, quando você estiver exausto após um dia de trabalho, mas
satisfeito porque viu o Messi de perto, lembre-se que haverá um grupo de
senhores animados, tomando uísque, fumando charuto e celebrando o lucro que você
ajudou a ser maior ainda.
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