PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

segunda-feira, 31 de março de 2014

ORDINANCE REGULATES ENTRY OF CHILDREN AND ADOLESCENTS IN EVENTS OF WORLD CUP 2014 IN MANAUS.

PORTARIA REGULA ENTRADA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM EVENTOS DA COPA DO MUNDO DE 2014 EM MANAUS.

FONTE: http://acritica.uol.com.br/noticias/Portaria-criancas-adolescentes-Copa-Mundo_0_1111688864.html


Documento assinado pela Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) estabelece a entrada de menores apenas acompanhados por responsáveis maiores de 18 anos

    Regras serão aplicadas a todos os eventos relacionados à Copa do Mundo
    Regras serão aplicadas a todos os eventos relacionados à Copa do Mundo (Jimmy Maciel)
    Portaria conjunta assinada pela Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) e 15 órgãos públicos dos governos federal, estadual e municipal regula o acesso e permanência de crianças e adolescentes nos eventos relacionados à Copa do Mundo em Manaus.
    A portaria foi assinada pelo Secretário de Estado de Segurança Pública do Estado do Amazonas, coronel PM Paulo Roberto Vital, em uma ação conjunta com os órgãos que compõem o Gabinete de Gestão Integrada do Estado – GGI-E/SSP-AM, a Comissão de Segurança Integrada para Grandes Eventos da Seasge/SSP e o Gabinete de Gestão Integrada do Município (GGI-M).
    As regras serão aplicadas a todos os eventos relacionados à Copa do Mundo, como os jogos na Arena Amazônia e ainda os 'Fan Fast', conforme a portaria nº 162/2013, de 25 de julho de 2013, que estabelece esses acontecimentos como eventos de alta complexidade e de grande repercussão regional.
    De acordo com o secretário de Segurança Pública, a norma segue a recomendação nº 13 do Conselho Nacional de Justiça, de 10 de dezembro de 2013, que dispõe sobre a padronização dos procedimentos dos Juizados da Infância e Juventude nas comarcas-sede de jogos da Copa do Mundo de 2014 e a circulação de crianças e adolescentes no território brasileiro. 
    Nos eventos esportivos, a entrada de crianças e adolescentes menores de 18 anos de idade, sem a presença de ao menos um dos pais ou responsável legal, obedecerá aos seguintes critérios: crianças de 12 anos incompletos só poderão ingressar nas praças esportivas acompanhados de pessoa maior de 18 (dezoito) anos, mediante declaração verbal deste, que a criança está sob sua companhia.
    Nos demais eventos a regulamentação será elaborada e expedida pelo Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, através do Juizado da Infância e da Juventude.

    The REALITY OF THE CITY MANAUARA IN VERSION "UNHAPPY", SHOWING A PART OF the PROBLEMS THAT we FACE OUTSIDE THE QUADRANGLE OF CUP 2014.

    A REALIDADE DA CIDADE MANAUARA NA VERSÃO "UNHAPPY", MOSTRANDO UMA PARTE DOS PROBLEMAS QUE ENFRENTAMOS FORA DO QUADRILÁTERO DA COPA 2014.

    FONTE: https://www.youtube.com/watch?v=_SdA4gWDrKU

    CLIP "HAPPY" WINS VERSION MANAUARA WITH THE SIDES OF THE WONDERFUL CITY.

    CLIPE "HAPPY" GANHA VERSÃO MANAUARA COM OS LADOS MARAVILHOSOS DA CIDADE.

    FONTE: http://www.youtube.com/watch?v=47p8T5qJK3w&feature=youtu.be


    The MINISTER GILBERTO CARVALHO, THE SECRETARY GENERAL OF THE Presidency OF THE REPUBLIC, EITHER MOVE THE CRITICISMS ABOUT The WORLD, WITH AN EYE ON ELECTORAL PROCESS

    O MINISTRO GILBERTO CARVALHO, DA SECRETARIA GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, QUER AFASTAR AS CRITICAS SOBRE O MUNDIAL, DE OLHO NO PROCESSO ELEITORAL

    FONTE: http://amazonasatual.com.br/noticias/politica/ministro-de-dilma-vem-a-manaus-falar-de-legado-da-copa/

    Gilberto Carvalho vai percorrer as doze cidades sedes do mundial para falar sobre o legado nacional dos jogos da Fifa (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)
    Gilberto Carvalho vai percorrer as doze cidades sedes do mundial para falar sobre o legado nacional dos jogos da Fifa (Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)
    MANAUS – O ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e o secretário Nacional de Articulação Político-Sociais, Wagner Caetano, estarão em Manaus, nesta quarta-feira, para proferir a palestra “Legado Nacional Copa para Todos”. O evento é uma estratégia do governo federal para tentar minimizar a reação popular diante do quase nenhum legado que a Copa deixará para as cidades sedes e para o país, e melhorar a imagem da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição.
    O evento, promovido pela Secretaria Geral da Presidência da República em parceria com o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Articulação de Políticas Públicas aos Movimentos Sociais e Populares (Searp), será realizado à tarde, no auditório Gilberto Mendes de Azevedo, sede da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam – avenida Joaquim Nabuco, no prédio Raimar Aguiar, nº 1.919, Centro, zona sul).
    O jornal O Estado de S.Paulo traz matéria nesta segunda-feira (coluna Radar Econômico) sobre um relatório da agência de classificação de risco Moody’s segundo o qual a Copa do Mundo, maior evento esportivo do planeta, planejada durante sete anos para deixar “grande legado” ao Brasil, trará efeitos “fugazes” à economia. Nas contas da instituição, o torneio trará ganho da ordem de R$ 25,2 bilhões ao País. Num primeiro olhar, pode parecer bastante. Mas, pela ótica da produção de bens e serviços (PIB, o Produto Interno Bruto), o impacto é ínfimo.
    Para o Amazonas, o legado em termos de infraestrutura é zero. Nenhuma obra de mobilidade urbana saiu do papel. O governo do Estado bancou, sozinho, com dinheiro emprestado para pagar em 20 anos, a construção da arena para os jogos. A Prefeitura de Manaus está disposta a gastar R$ 10 milhões para promover as atividades festivas durante os jogos da Copa em Manaus.
    Na semana passada, durante uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado (ALE), o legado da copa foi o assunto principal discutido. O deputado Marcelo Ramos e o secretário de Estado de Cultura, Robério Braga, fizeram coro para dizer que não ficará nenhum legado para a população, que terá que pagar as despesas que o evento deixará para o Estado pagar nos próximos anos.

    quinta-feira, 13 de março de 2014

    WHO PAYS THE FEAST OF FIFA? - RESPONSE Jerome Valcke.

    QUEM PAGA A FESTA DA FIFA? - RESPOSTA A JERÔME VALCKE.

    FONTE: http://laurocampos.org.br/2014/03/quem-paga-a-festa-da-fifa-resposta-a-jerome-valcke/

    • Por Maurício Costa de Carvalho em 01 de março de 2014

    A provável desistência da prefeitura de Recife de realizar a Fan Fest – espaço de transmissão dos jogos e shows que desde 2006 tornou-se um dos negócios mais importantes das Copas do Mundo – e os impasses e pendências que podem prejudicar a realização desses eventos em pelo menos seis das doze cidades-sede, abriu um importante debate sobre a pertinência da realização das festas da Fifa.
    Ainda que esteja em marcha uma pesada campanha midiática organizada pelo tripé Fifa-Rede Globo-Governo Federal no sentido de se escorar no amplo apelo popular do futebol e da Copa no Brasil para garantir que contratos de realização da Copa pudessem ser cumpridos em sua integralidade, a situação política do país extremamente instável e crítica às contrapartidas que o megaevento tem exigido da população, pode colocar em risco a efetivação de negócios milionários como as Fan Fests.
    Fan Fests: um grande negócio para os parceiros da Fifa
    Em artigo recente publicado na Folha de S.Paulo (“A festa dos torcedores”, 26/02/2014), o secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke acusa o golpe. Buscando responder ao irretocável texto do jornalista Xico Sá (“Carta a messiê Jérôme”, 22/02/14), Valcke, em primeiro lugar, repete o mantra de que serão extremamente positivos o “retorno de imagem e o ambiente de festa” da Copa e das Fan Fests e que a Fifa sempre quis “incluir os brasileiros no megaevento”. Por outro lado, deixa claro que a entidade não hesitará em cobrar as indenizações previstas em contrato, afinal, como “ninguém forçou o Brasil” a sediar a Copa, “ao se informar dos requisitos, as autoridades prontamente concordaram e assinaram os compromissos”. É verdade. Faltou dizer que isso não foi combinado com o povo.
    Para além da retórica festiva, o que está por trás dos argumentos de Valcke é a garantir que as Fan Fests cumpram a função para a qual foram criadas, isto é, que sejam espaços de alta lucratividade com propaganda. Nas palavras da própria Fifa, o conceito desenvolvido especialmente a partir da Copa de 2010 demonstrou-se “uma ferramenta de marketing muito positiva tanto para a entidade que comanda o futebol mundial quanto para os patrocinadores, reforçando o contato com consumidores em todo o mundo”. Para tanto, é necessário reunir a emoção dos torcedores com o futebol em “locais representativos de cada uma das cidades-sede – como a praia de Copacabana” para que tenham uma “experiência única” ao assistirem os jogos, especialmente porque serão os espaços para conhecerem a “missão da Fifa e terem contato com as marcas patrocinadoras”.
    Cercas, controle e barreiras antichoque
    Ao contrário de espaços públicos abertos onde os torcedores se reúnem para curtir os jogos da seleção nacional como passou a ser tradição nos bairros e centros de várias cidades do Brasil, as Fan Fests acontecem em espaços públicos controlados, com exclusividade comercial dos parceiros da Fifa e sob sua “jurisdição” durante todo o torneio. Em outras palavras, ao longo de todo o mês em que acontecerá a Copa além das “Zonas de exclusão” definidas por contrato ao redor dos estádios (esse é um assunto para outra hora), haverá a apropriação privada de espaços públicos como, por exemplo, o Vale do Anhangabaú em São Paulo.
    As especificações nas diretrizes da Fifa de organização das Fan Fests são muito claras e bem documentadas. As cidades-sede devem garantir que os espaços “em lugares centrais e de fácil acesso” estejam disponíveis de 13 dias antes da abertura da Copa até cinco dias depois da final em todas as cidades-sede. Nesse período a cidade-sede deve garantir o controle da entrada e saída da área, com postos de revista em cada ponto de acesso. Os lugares devem ter cercas de 2 metros de altura ou espaços para cercas temporárias além da imprescindível construção de “barreiras antichoque e barricadas” nas imediações. Também é obrigação das cidades-sede garantir que em cada entrada haja “uma quantidade suficiente de áreas de revista de espectadores”. É justamente por conta dessas exigências, combinadas ao temor da Fifa de que as manifestações contra a Copa atravessem todo o megaevento, que a realização das festas em lugares possivelmente incontroláveis como Copacabana, por exemplo, está sendo rediscutida.
    Apropriação privada dos espaços públicos
    No interior dos espaços onde ocorrerão as Fan Fests, previstas para no mínimo 20 mil pessoas (em algumas se prevê mais de 100 mil), a permissão de atividades comerciais é restrita aos parceiros da Fifa, a saber: Coca-Cola, Emirates Airlines, Sony, Hyundai-Kia Mortors, Adidas e Visa, com possibilidade de espaços comerciais cedidos a patrocinadores de escalão hierárquico inferior como McDonalds, Budweiser e Itaú. Quaisquer outras marcas que eventualmente estejam presentes no campo de vista que o local abrange devem ser cobertas ou removidas. No caso de serem espaços de vendas de anúncios os mesmos devem ser comprados pela cidade-sede. Isso também se aplica a todo o entorno das áreas das festas. Além disso, também devem ser construídas áreas internas reservadaos à Fifa, seus parceiros e afiliados e à TV Globo, que também é organizadora e parceira prioritária dos eventos, tendo em vista que será a responsável por organizar a programação de shows nas Fan Fests e transmitir para todo o Brasil e para o mundo, com exclusividade, as marcas da Fifa e dos patrocinadores associadas à festa e “alegria do futebol”.
    Até a gratuidade das Fan Fests não está totalmente garantida. Segundo o documento que orienta os eventos “a TV Globo poderá aprimorar a estrutura existente através do oferecimento de entretenimento de alta qualidade, como shows e apresentações de palco em qualquer um dos sete (7) dias sem jogo durante a Copa do Mundo da FIFA 2014™ (de 12 de junho a 13 de julho de 2014), podendo cobrar taxa de entrada (uma vez que nenhuma partida será exibida). (…). A renda gerada por meio desses eventos, incluindo taxas de entrada, poderá ser embolsada integralmente pela TV Globo”. Ou seja, mesmo com as receitas de marketing exorbitantes que podem ser obtidas pelas empresas parceiras e afiliadas da Fifa com a propagação mundial de suas marcas e com os previstos recordes de audiência da Globo por transmitir o maior megaevento do mundo, ainda é possível que haja cobrança de ingresso pelo acesso aos espaços públicos das cidades!
    O povo vai assumir a conta?
    Com tudo isso, você deve estar se perguntando: “com todo esse lucro, os patrocinadores e a Fifa pagarão pela organização e estrutura das festas?”. Não, nem isso. No fim, quem paga a conta é você, contribuinte e morador das cidades da Copa. À exceção da estrutura do telão e do palco e dos banners com as marcas que ficarão ao encargo da Fifa e da organização e transmissão dos shows que serão responsabilidade da TV Globo, todo o restante da estrutura e gestão evento – local, limpeza, segurança, cercas, barreiras antichoque e barricadas, estacionamento, seguros, licenças e custos legais, estruturas de torres e andaimes, água, energia, iluminação do local, contêineres, estruturas de comunicação, alimentação, sanitários, guindastes e plataformas elevatórias, pronto socorro, tráfego e transporte, etc. – será custeado pela cidade-sede, isto é, será dinheiro público.
    Embora a Fifa não diga, estima-se que os custos para o evento girem em torno de R$ 10 milhões para uma estrutura “modesta” mas podem ser bem superiores. Sem contar, o tradicional superfaturamento, é claro. Embora Valcke afirme que os custos podem ser inferiores aos de festas como o Carnaval, o Reveillon e festas regionais, é certo que a comparação com essas festas populares, por mais mercantilizadas que se tente fazê-las, é improcedente, tendo em vista o tamanho da concentração do lucro das Fan Fests. Para tentar aplacar o enorme prejuízo restaria às cidades-sede se responsabilizarem pela venda de alimentos e bebidas (não alcoólicas) – exclusivamente fornecidas pelas afiliadas da Fifa, é claro – e operar o chamado “programa de hospitalidade” com a comercialização de espaços privativos dentro dos espaços públicos já apropriados privadamente a serem utilizados “pela Sede, pela FIFA, por VIPs, pelos Patrocinadores do FIFA Fan Fest™, pelo Parceiro de Mídia, por Anunciantes Terceiros, pelo governo e por outros terceiros”.
    Por tudo o que está posto e pela força dos protestos que insistem em reivindicar direitos nas ruas e certamente visualizarão as Fan Fests como espaços de protestos, é possível que mais governantes em ano eleitoral se sintam compelidos a abrir mão das festas da Fifa pagas com dinheiro do povo. Por isso, é muito sábio o conselho do Xico Sá a Valcke: mais juízo, considere o cenário dos trópicos no momento e não se apegue aos contratos. Porque a Fifa, na figura de Valcke, pode prometer um chute no traseiro do Brasil. Pode dizer que é muito melhor construir uma Copa em países não democráticos. Pode exigir que se cumpram contratos que violam as leis do país e estabelecem verdadeiras normas de exceção e que foram feitos sem qualquer participação popular. Mas não pode querer que o povo que está sendo alvo dessa imensa espoliação seja alegremente conivente.

    THE LEGACY OF HEALTH AND EDUCATION FIFA.

    O LEGADO DA FIFA NA SAÚDE E EDUCAÇÃO.

    FONTE: http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?Area=Noticia&Num=853

    Programa da Fifa em parceria com três ministérios ensina hábitos "saudáveis" em escolas públicas. Especialistas consideram o conteúdo, a concepção de promoção à saúde e de currículo um retrocesso. 

    Cátia Guimarães - Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio

    Quando as manifestações nas ruas gritaram que, em vez de Copa, queriam mais saúde e educação, talvez não soubessem que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) está atuando também nessas áreas. Continuando uma ação iniciada na África do Sul, em 2010, com o objetivo de deixar um “legado médico” para o país, a Fifa está promovendo no Brasil o programa ’11 pela saúde’, que visa “ajudar os jovens” do país a “viver uma vida saudável”. Legitimado por uma parceria dos ministérios da Saúde, Educação e Esportes, o programa apresenta conteúdos de saúde e abordagens educacionais que, segundo diversos especialistas, vão na contramão das políticas e das demandas da sociedade civil organizada no Brasil. “A parceria com a Fifa está dada no âmbito de todos os demais ministérios. Trabalhar na perspectiva de ter legados para a saúde e a promoção se colocar como um desses legados é importante para o ministério da saúde e para o governo brasileiro”, explica Débora Malta, coordenadora geral de vigilância de agravos e doenças não transmissíveis do Ministério da Saúde, responsável pela articulação com o programa.  Carlos Eduardo Batistella, professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), que estuda currículo, principalmente na área da saúde, discorda: “É de estranhar que os Ministérios da Saúde e da Educação não tenham obstado essa iniciativa, uma vez que a construção de políticas de saúde e educação no país já nos autoriza a considerar que não precisamos de auxílio iluminado para estabelecer um ‘programa de educação séria sobre saúde’, como anuncia a Fifa no material do programa”.

    O “currículo” do programa é dividido em 11 sessões que associam um tema sobre futebol a uma mensagem sobre saúde, cada um trabalhado em 45 minutos, representando dois ‘tempos’ de uma partida de futebol. No Brasil, uma versão piloto do programa foi aplicada em Curitiba e agora esses professores estão treinando os outros. O material de referência é o Manual do Treinador , que orienta detalhadamente o professor sobre cada atividade que ele deve desenvolver com os alunos, determinando inclusive o número de minutos que cada etapa deve levar. “O grau de prescrição de comportamentos chega a níveis absurdos, onde se propõe a criação de ‘círculo de elogios’ e a ‘lista de controle’ determina cada passo da preparação das sessões, seus tempos e movimentos”, analisa Batistella.

    O destino final dessas mensagens de saúde são alunos de 11 e 12 anos de escolas públicas das cidades-sede da Copa do Mundo do Brasil. “A simples denominação do material como ‘Manual do Treinador’ já nos remete a duas questões bastante críticas no campo da educação: de um lado, assume uma perspectiva de forte diretividade, já que o uso do termo ‘manual’ quer restringir a atividade docente à mera implementação de um currículo prescrito, negligenciando a ação pedagógica como possibilidade de reconstrução de conhecimentos e sentidos. De outro, transparece uma visão de educação como adestramento, numa perspectiva comportamentalista que, nos últimos anos, tem sido reanimada – com nova roupagem - pela pedagogia das competências”, critica Batistela. 

    A mensagem mais polêmica – embora não seja a única – é a que, junto com o uso de camisinha, indica a abstinência sexual e a fidelidade como formas de prevenção ao HIV/Aids. O Ministério da Saúde garante que, na revisão que fez do material utilizado na África, retirou essas orientações. Débora reitera que a política brasileira investe apenas na prevenção por meio de preservativos. Mas o fato é que elas permaneceram na versão final do ‘Manual do Treinador’, utilizado para treinar os professores que, por sua vez, reproduzirão com os alunos o conteúdo e a dinâmica didática que aprenderam . Perguntada sobre o que uma instituição que tem essa concepção de promoção e prevenção à saúde tem a ensinar às crianças brasileiras, a coordenadora do Ministério da Saúde afirmou que “toda parceria é bem-vinda” e legitimou o conhecimento técnico da Fifa nessa área. “O mote da Fifa realmente é o futebol mas ela se valeu de especialistas. Ela tem discutido isso com a OMS [Organização Mundial de Saúde] há anos. O desenho está de acordo com os eixos da OMS na priorização das doenças crônicas não-transmissíveis”, diz. Para Batistella, a interferência da Fifa em ações de educação e saúde tem objetivos bastante específicos: “Numa época em que todo mundo educa, a Fifa aparece como a nova candidata ao posto de instituição educadora aos países subdesenvolvidos. Por trás da aparente benevolência dos países centrais, repete-se o velho mecanismo de colonização que já acompanhou a Europa na invenção do oriente: o recurso ao estereótipo, a padronização de condutas servis ao sistema, a disseminação de valores desejados para a manutenção do sistema”. 

    Mudança de comportamento

    Especificamente em relação ao conteúdo de saúde do programa, a primeira crítica mais geral diz respeito à própria concepção de promoção da saúde que sustenta o programa, focada numa estratégia de informação para mudança do comportamento individual. De acordo com Paulette Cavalcanti, pesquisadora do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CpqAM/Fiocruz Pernambuco), tem-se lutado, no Brasil, por uma prática de promoção que seja coerente com o conceito ampliado de saúde. “Não é possível produzir carros sem se pensar na promoção da saúde, tocar uma fábrica de alimentos sem pensar na quantidade de sal e outras substâncias que vão ser utilizadas”, exemplifica, lembrando que a diminuição do sal dos alimentos é uma ação muito mais estrutural para o controle da hipertensão do que a administração de medicamentos àqueles que já se tornaram hipertensos. Paulette explica que a grande referência mundial é a Carta de Ottawa , de 1986, que apresenta cinco eixos principais para essa concepção de promoção à saúde. “Apenas um eixo fala da mudança de comportamento. Mas o Brasil está elegendo exatamente esse para ser o principal”, diz. Todos os outros – criação de ambientes saudáveis, reforço da ação comunitária, reorientação dos serviços de saúde e um olhar para o futuro – dizem respeito à participação do Estado e da sociedade.

    Na cartilha da Fifa, esse problema aparece, por exemplo, no tema do saneamento, presente na sessão ‘Beba água tratada’ que, segundo Alexandre Pessoa, engenheiro sanitarista e professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), não só dá destaque como incentiva, em uma das “mensagens-chave”, o uso de água engarrafada. “Essa abordagem trata os recursos hídricos como mercadoria, desconsiderando todo o debate sobre a universalização do direito à água. Ao se naturalizar o uso de água engarrafada como referência de água tratada, está-se ignorando que é obrigação do Estado fornecer água em quantidade e qualidade necessárias para o consumo humano”, diz. Alexandre considera também injustificável que, com toda a importância que a questão ambiental tem nos dias de hoje, um programa de promoção à saúde não aborde em nenhum momento a importância do uso racional da água.

    Ana Lucia Pontes, médica e também professora-pesquisadora da EPSJV/Fiocruz, faz o mesmo debate em relação à sessão ‘Controle seu peso’. Segundo ela, a cartilha ignora que o que as comunidades de baixa renda, muito presentes nas escolas públicas em que esse programa está sendo aplicado, têm a sua disposição são alimentos de baixa qualidade nutricional. “Não é um questão de escolha, como o programa faz parecer”, diz. Ela destaca um trecho da cartilha que afirma que não se precisa ser rico para seguir uma dieta equilibrada, já que frutas, legumes e carboidratos seriam mais baratos do que os alimentos ricos em gordura e açúcar. “Essa é a grande ironia do momento atual. Os alimentos orgânicos, que são livres de agrotóxicos, por exemplo, são os mais caros. As pessoas não podem plantar seus próprios alimentos e, em função da vida atribulada, desaprenderam a preparar alimentos que antes eram feitos em casa e a solução são os produtos industrializados. Na prática, para se alimentar bem, tem que ser rico sim”, discorda.

    O foco do papel do indivíduo na promoção à saúde fica evidente também, segundo a pesquisadora, na ausência de qualquer referência à propaganda de alimentos – já que as crianças, que são o público do programa, são uma das mais afetada pela publicidade que incentiva o consumo de refrigerantes, biscoitos, comidas de fast food e tantos outros alimentos nada saudáveis. Para Ana Lucia, a abordagem desse tema com crianças seria também uma ótima oportunidade para ensiná-las a ler a tabela nutricional, o que, mais do que prescrever comportamentos, permitiria que elas participassem da escolha e da decisão sobre os alimentos mais saudáveis. Mas a cartilha não faz qualquer referência a isso. Bastistela conclui: “O que o currículo da Fifa ensina é o conformismo, a obediência e o individualismo, valores e atitudes esperadas ao papel de subordinação que se destina às crianças pobres nestes países”.

    Destacando o mesmo tom comportamental da perspectiva de promoção à saúde do programa da Fifa, Alexandre Pessoa aponta, por exemplo, a ausência de qualquer discussão ou mesmo informação sobre o “caminho das águas” no conteúdo sobre saneamento. “Não se apresenta esse bem em todas as suas etapas, o que implicaria falar sobre a proteção dos mananciais, o combate à perda de água no transporte, o cuidado com a caixa d’água para daí chegar à filtração, entendendo que a fervura é o último recurso”, diz. E completa: “O programa tem uma abordagem comportamentalista normativa e, consequentemente, culpabilizadora. Ao fim e ao cabo, se algo não deu certo, a culpa é do indivíduo”.
    Abordagem moralista

    Na sessão sobre HIV/Aids, o programa ensina as formas de transmissão, destacando que ninguém se contamina no toque ou no olhar, por exemplo. Na ficha de informação que vem ao final da sessão, explicando o que é o HIV e como ele afeta o corpo, as duas formas de prevenção apresentadas são o uso de preservativos femininos e masculinos para todos os tipos de relações sexuais e o não compartilhamento de agulhas e seringas. Mas na descrição do “cartão de atividades” e no resumo das mensagens-chave, a cartilha repete o conteúdo que foi aplicado na África do Sul, quatro anos atrás: “Você pode proteger-se do HIV abstendo-se de sexo tanto quanto possível, ser fiel a um (a) parceiro (a) não infectado (a), ou usar um preservativo corretamente todas as vezes que tiver relações sexuais”. “Isso é um retrocesso na política de prevenção à Aids”, diz o assessor de projetos da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), Juan Carlos Raxach. Ele explica que a fidelidade teria que ser mútua, por isso, ser fiel não é suficiente porque requer a confiança na fidelidade do outro também. Já sobre a abstinência, ele questiona as consequências, inclusive psicológicas, que a falta de sexo pode trazer para a saúde. Por isso, diz, conseguiu-se imprimir na política brasileira o uso de preservativo como o método de proteção no que diz respeito à transmissão por via sexual.
    Segundo Juan Carlos, essa abordagem, que carrega uma perspectiva religiosa sobre a doença, foi levada para países da África e da América Latina, inclusive o Brasil, na década de 1990, pela Usaid (U.S. Agency for International Development). “Nós lutamos muito e conseguimos banir isso de todos os documentos brasileiros. O que a Fifa defende contraria tudo o que nós entendemos como direito humano”, diz. No continente africano, onde esse programa foi aplicado pela primeira vez, no entanto, a presença e a influência da Usaid ainda são muito fortes.

    Abordagem semelhante aparece na sessão que fala sobre drogas, álcool e tabaco. Na tarefa de casa, por exemplo, os alunos devem “desenhar um mapa da sua comunidade”, marcando os lugares em que essas substâncias são usadas e os lugares “seguros”, onde eles “não seriam pressionados para usar drogas, álcool ou tabaco”. Os exemplos de respostas possíveis apresentados pela cartilha são “igreja, casa, escola, campo de futebol”. “Isso separa o mundo entre bom e mau e dá a entender que se você evitar o mau, como determinadas pessoas de má influência, vai resolver o problema”, analisa Francisco Inácio Bastos, pesquisador do Instituto de Informação Científica e Tecnológica (Icict) da Fiocruz, que coordenou recentemente a pesquisa ‘Perfil dos usuários de crack e/ou similares no Brasil’. 

    Erros e inadequações

    Nessa mesma sessão sobre álcool, drogas e tabaco, o texto apresenta os medicamentos como “drogas benéficas” e opõem a eles as drogas “ilegais”, que seriam “nocivas”. Assim, o programa simplesmente desconsidera os dados mais atuais sobre o uso e dependência de drogas no país. Segundo o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, de 2005, por exemplo, os benzodiazepínicos, família de medicamentos que incluem os tranquilizantes e ansiolíticos, e que são lícitos, são a sexta droga mais usada no país, à frente da cocaína, do crack e do oxi, que ganharam destaque na cartilha. O mesmo levantamento mostra que os benzodiazepínicos estão em terceiro lugar entre as drogas que mais causam dependência, perdendo apenas para o álcool e o tabaco, todas drogas lícitas. 

    De acordo com esses mesmos dados, a cartilha ainda erra ao informar que “a maconha é provavelmente a droga mais usada, além do álcool e tabaco”. Usando a mesma forma genérica, o texto afirma que “o uso da maconha leva muitas vezes à utilização de drogas mais fortes”, o que, segundo Francisco Inácio, não é verdade. “O mercado da maconha, que está regulado agora no colorado [estado norte-americano], está se mostrando bastante distinto do mercado das outras drogas. A grande maioria são usuários antigos, que não usam cocaína e outras drogas. Obviamente tem um grupo que começa com maconha e usa outras coisas, mas na verdade, no mundo inteiro, a grande porta de entrada para o conjunto de substâncias não é a maconha, é o álcool. Porque é lícito, usado em todos os lugares, e é extremamente frequente em universidades e no ensino médio”, diz.

    Batistella chama atenção ainda para a incoerência entre o discurso e a prática da Fifa em relação às drogas. “É curioso que a preocupação da Fifa com a adoção de hábitos saudáveis não tenha impedido que a própria entidade incluísse, na lista de exigência para a aprovação da Lei da Copa no Brasil, a liberação do consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, contrariando as leis locais – estas sim, construídas com base na análise estatística e epidemiológica que associa a violência nos estádios com o consumo excessivo de álcool”, lembra.
    Ele chama atenção ainda para a impropriedade do conteúdo e da dinâmica trabalhada na sessão relativa aos medicamentos. “É uma abordagem biomédica de incentivo à medicalização, mobilizando os estudantes a monitorarem a frequência de uso de medicamentos na família, sem ater-se à compreensão do processo de produção social de saúde e doença, culminando em uma atividade na qual as crianças são incitadas a repetir umas para as outras: ‘tome remédio’! Como analisar tal recomendação diante de uma preocupação crescente com a automedicação no país?”, questiona.

    Próximos passos

    De acordo com Deborah Malta, a expectativa é que, após a aplicação nas cidades-sede, se faça uma avaliação do programa e, dependendo do resultado, ele seja ampliado, tornando-se, inclusive, uma ferramenta do Programa Saúde na Escola, uma parceria dos ministérios da Saúde e Educação que já existe desde 2007 e conta com um eixo de promoção da saúde. A intenção é fazer uma nova adaptação dos conteúdos, incluindo outras mensagens, mas mantendo a metodologia, que seria cedida pela Fifa. 

    Na versão atual, de acordo com o Ministério da Saúde, todos os custos do programa são de responsabilidade da Fifa. 

    WORLD CUP SPECIAL: PROTESTS IMAGE IMPACT OF SPONSORSHIP.

    ESPECIAL COPA DO MUNDO: PROTESTOS IMPACTAM IMAGEM DAS PATROCINADORAS.

    FONTE: http://www.mundodomarketing.com.br/reportagens/mercado/30122/especial-copa-do-mundo-protestos-impactam-imagem-das-patrocinadoras.html

    Manifestações que tomam o país desde junho do ano passado levam quantidade significativa de brasileiros a deixarem de apoiar o evento e as marcas parceiras

    Por Renata Leite, do Mundo do Marketing | 11/03/2014


    O país inteiro comemorou quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo de 2014, mas desde o anúncio da FIFA, em 30 de outubro de 2007, o panorama sofreu uma reviravolta. Gastos públicos significativos aplicados na organização do evento, atrasos e mudanças em obras e dúvidas sobre o legado que será deixado para a população fizeram do mundial um dos principais alvos dos protestos que tomaram o país desde junho do ano passado. Tamanha rejeição atingiu em cheio as empresas patrocinadoras da Copa. A segunda matéria da série sobre a Copa do Mundo mostra os desafios enfrentados pelas companhias diante das manifestações.

    O número de brasileiros que se declaram favoráveis ao evento caiu de 71% para 45% no período entre setembro de 2012 e julho de 2013, segundo a pesquisa “Copa 2014 Oportunidades”, da Nielsen Sports Brasil. No levantamento mais recente, houve uma sutil recuperação, subindo para 47%. Os dados também apontam para o aumento da proporção de brasileiros que consideram alto os investimentos nos preparativos para o mundial desde setembro de 2012, quando 27% dos entrevistados declararam ter tal opinião. Em julho de 2013, esse número saltou para 48% e apresentou leve queda em dezembro, com 41%.
    O impacto na aceitação às marcas patrocinadoras é inegável. Entre os entrevistados pela Nielsen Sports, 67% declararam apoiá-las em setembro de 2012, ante 32% em julho de 2013 e 35% em dezembro de 2013. Além disso, 3% afirmaram ter uma imagem negativa dessas empresas na primeira consulta, enquanto 22% e 16% declararam isso nas duas consultas seguintes. A disposição para compra de produtos dos patrocinadores também caiu: era de 58% em setembro de 2012, 31% em julho de 2013 e 33% em dezembro do mesmo ano.
    Consumo não deve ser afetado
    Apesar da imagem ruim do evento junto a uma parcela expressiva da sociedade, as compras devem aumentar durante o evento. O cenário se torna mais promissor para as marcas não patrocinadoras de segmentos que estarão aquecidos, como o de bebidas. “Essa imagem ruim do evento pode acabar transbordando para as empresas que o patrocinam, mas não acreditamos em um impacto negativo no consumo. Isso porque ninguém vai deixar de assistir ao evento por não apoiá-lo, por discordar dos gastos públicos e achar que não haverá um legado de longo prazo”, resume Otavio Carvalho, Analista de Mercado da Nielsen Sports, em entrevista ao Mundo do Marketing.
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    Em julho do ano passado, a revista americana Advertising Age estampou em sua capa a foto de um protesto com a frase: “Imagina sua marca no meio disso”. “O noticiário jornalístico internacional totalmente negativo obriga as empresas patrocinadoras e anunciantes a tomar atitudes defensivas para não ligar suas marcas a corrupção e colocá-las contra a opinião pública. Note-se nas campanhas que os anunciantes estão se posicionando ao lado da seleção e não da Copa. Os grandes patrocinadores internacionais e parceiros da FIFA e da CBF já não citam essas parcerias”, analisa José Estevão Cocco, Presidente da Academia Brasileira de Marketing Esportivo (Abraesporte) e da agência J.Cocco, em entrevista ao Mundo do Marketing.

    Determinadas mídias também se mostraram traiçoeiras para as empresas. Banners instalados pela Coca-Cola em pontos de ônibus e bancas de jornal do Rio de Janeiro foram pichados e satirizados, tornando-se memes nas redes sociais. Ações em lugares públicos deixaram de ser prioridade e o conteúdo delas também precisou ser revisto. “As campanhas de Marketing agora se limitam a falar de futebol, como podem fazer anunciantes que não são patrocinadores da FIFA”, resume Cocco.
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    Imagina na Copa

    As críticas ao evento começaram muito antes das manifestações, com a criação do jargão “Imagina na Copa”. A expressão que já demonstrava a apreensão dos brasileiros em relação aos investimentos do governo em infraestrutura e mobilidade acabou sendo transformada pela Brahma numa ação otimista. Em 2012, a fabricante de cerveja que patrocina o evento inverteu essa expectativa lançando o “Imagina a festa”, com muitos vídeos no Youtube e em comerciais no horário nobre na TV.
    A melhor forma das empresas reverterem as críticas, no entanto, é investir na comunicação de suas ações sociais, que funcionam como uma espécie de compensação. “As marcas precisam deixar claro que não estão apenas patrocinando a construção de estádios enquanto a população pede investimentos em escolas, na infraestrutura de transportes e de saúde. Diversas dessas empresas também têm ações sociais sendo feitas, além do investimento em esporte. Já temos notado mudanças na comunicação delas”, diz Carvalho, da Nielsen Sports.
    É fundamental às empresas mostrarem que também querem construir um país melhor e que o patrocínio ao esporte é um modo de investir no social. No fim do ano passado, a Coca-Cola quebrou protocolos ao permitir que um grupo de jogadores de futebol cegos tocasse a taça do evento, privilégio dado apenas aos campeões mundiais e chefes de Estado. O momento foi filmado e gerou um vídeo publicado no Youtube, que atingiu mais de 5,7 milhões de visualizações. O mote das ações da marca é “A Copa de todo mundo”.
    Empresas destacam ações sociais
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    A Coca Cola investirá também na reciclagem do lixo produzido em todos os estádios do evento e na capacitação de jovens que terão seu primeiro emprego nos jogos da Copa. “Sabemos o momento que o país vive e como os consumidores estão em relação a tudo isso, mas vemos no evento uma oportunidade muito interessante de fazer coisas diferentes, de dar visibilidade para o país, de puxar a agenda positiva, falar dos legados que estamos construindo e ter um retorno positivo, assim como tivemos na Copa das Confederações”, afirma Victor Bicca, Diretor de Assuntos Governamentais, Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil para a Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014, em entrevista ao Mundo do Marketing.

    As patrocinadoras estão atentas às movimentações do mercado e às manifestações e buscam dar sentido às suas ações e mostrar que elas transcendem o mundial. “Desde a Copa das Confederações monitoramos, mas o cenário externo não impactou o que estava planejado para o evento. A gente entende que as ações que nós estamos realizando, embora sejam diretamente ligadas à Copa, estão acima de tudo ligadas ao nosso negócio, ao que a gente faz no dia a dia. Nossa proposta é genuína, legítima”, defende David Grinberg, Gerente de Marketing Esportivo do McDonald’s, em entrevista ao Mundo do Marketing.
    A rede de lanchonetes está trabalhando na capacitação dos voluntários da Copa e na promoção “Sonho de craque”, que leva crianças para dentro de campo no início das partidas de mãos dadas com os jogadores. Houve ainda o lançamento de copos de vidro inspirados nas conquistas da Seleção Brasileira na Copa do Mundo e de sanduíches que homenageiam países participantes do evento realizado em 2010.
    Veja também a pesquisa completa da Nielsen Sports Brasil no Mundo do Marketing Inteligência. Conteúdo exclusivo para assinantes.
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    WITHOUT GREEN COPA.

    SEM COPA VERDE.

    FONTE: http://www.apublica.org/2014/02/manaus-na-copa/

    Vendida como a capital da floresta, Manaus acumula decepções com as obras - que já mataram três operários - sem retorno para os moradores; e pode decepcionar os visitantes com as marcas da degradação urbana e da desigualdade social


    A arena de futebol custou aos cofres públicos mais de R$ 600 milhões e ninguém sabe o que será dela depois; a reforma do porto consumiu R$ 71 milhões de recursos federais  (via DNIT) e teve o processo de licitação contestado – as obras foram há pouco retomadas mas ainda não se sabe o porto estará pronto antes da Copa. As obras do aeroporto internacional Eduardo Gomes soterraram um curso d’água e desmataram um área protegida da capital amazonense. Os centros de treinamento – dois – não têm data para abertura.
    Fiscalização do Ministério Público do Trabalho na Arena
    Quando Manaus foi escolhida para sediar quatro jogos da Copa, a decisão foi saudada pela imprensa local e por políticos e um clima de euforia reinou na cidade. Uma lista de projetos que fariam parte “do legado da Copa” entrou nas agendas de discussão dos gestores públicos e passou a pautar reportagens e debates: obras de mobilidade urbana, incremento da rede hoteleira, revitalização de áreas degradadas, melhorias no transporte público. Até mesmo um projeto de geração de energia solar, que seria instalado no entorno da Arena da Amazônia, foi previsto no pacote.
    A maioria dos projetos foi abandonada ao longo do caminho e a população não esqueceu. Pressionados agora a dar uma resposta à sociedade, os gestores públicos se empenham em anunciar como “legado” intervenções de menor porte, planejadas a toque de caixa, na área de segurança pública, do trânsito urbano.
    O desapontamento com o (não) legado da Copa vem acompanhado pelo desalento trazido pela morte de três operários ao longo da construção da Arena da Amazônia: foram duas mortes em 2013 e uma nesse início de fevereiro de 2014. Uma quarta morte, embora não associada diretamente a acidente de trabalho, também trouxe comoção ao canteiro de obras – um trabalhador morreu vítima de infarto – e marcou Manaus com a cidade-sede  da Copa com o maior número de acidentes fatais durante os preparativos para o megaevento. A construtora Andrade Gutierrez – uma das mais beneficiadas pelas obras da Copa no país – é alvo de uma ação por dano moral coletivo e, em 7 de fevereiro deste ano, o Ministério Público do Trabalho pediu prioridade no julgamento dessa ação contra a responsável pela obra, no valor de R$ 20 milhões.

    MOMENTO “POSITIVO”

    Nem mesmo o gestor da Copa – como é informalmente conhecido o cargo de coordenador da Unidade Gestora do Projeto Copa em Manaus (UGP Copa), criado pelo governo do Amazonas –  Miguel Capobiango, cita mais as prometidas obras de mobilidade e revitalização urbana ao falar do legado da Copa. “O principal legado que a Copa vai deixar para Manaus é a visibilidade”, ele diz. “E ela trará turistas. Então, é preciso tentar dentro do projeto da Copa fazer com que este momento de visibilidade se torne um momento positivo”, incentiva.
    Não vai ser fácil mostrar um cenário tão “positivo” para os visitantes. Embora detenha o sexto PIB do país, segundo o IBGE de 2010, sobretudo por abrigar o Polo Industrial de Manaus (PIM), a cidade se destaca por sua elevada desigualdade social.  O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH) vem melhorando, hoje é de 0,737 (o máximo é 1), mas o Índice Gini, usado para medir a concentração de renda, indica que a desigualdade em Manaus vem crescendo: passou de 0,56 em 1991 para 0,61 em 2010 (numericamente, O significa total desigualdade e o 1, completa desigualdade).
    Eliane Nascimento que vive com sua família em um barco no Igarapé de Educandos. (Foto: Elaíze Farias)
    Eliane Nascimento que vive com sua família em um barco no Igarapé de Educandos.
    (Foto: Elaíze Farias)
    “Prometeram um legado, mas isso não passou de discurso. Está muito claro quem está ganhando com a Copa em Manaus: as construtoras, os organizadores, os dirigentes do Estado e a própria Fifa. Esses são os que vão lucrar com as grandes somas investidas. Enquanto isso, as mazelas da cidade estão expostas”, afirma Hamilton Leão, presidente do Instituto Amazônico de Cidadania (IACi), uma das organizações de Manaus mais atuantes na cobrança dos gastos públicos na cidade.
    “Fazem tantas propagandas sobre a cidade que não correspondem à realidade. Se quiserem fazer um raio-X da cidade não perguntem ao empreiteiro, ao empresário, ao homem público. Vá a um bairro da periferia e consulte o cidadão comum e veja  como é o dia-a-dia dele e pergunte se a Copa está trazendo algum benefício para ele”, completa.

    APOSTA DE RISCO NO TURISMO

    A aposta no crescimento do turismo é um risco: Manaus tem uma rede de hotelaria pequena para o aumento projetado durante e depois da Copa. A Unidade Gestora da Copa estima que 18 mil turistas visitarão Manaus no período da Copa, enquanto Capobiango diz que Manaus tem 14 mil leitos em hotéis convencionais. Há os chamados “3 mil leitos alternativos”, instalados em motéis, locações temporárias em residências e até em embarcações localizadas na orla de Manaus.
    O governo do Amazonas reservou um montante de R$ 10 milhões para divulgar o turismo pré-Copa em “ações voltadas para workshops de educação para operadores e jornalistas de turismo, nacionais e internacionais, dando ênfase aos oito países da Copa e às 11 cidades sedes do Brasil”, segundo declarações da titular da Amazonastur, Orenir Braga. As ações incluem também anúncios publicitários em revistas de bordo de companhias aéreas e revistas especialistas” e participação do órgão em feiras de turismo no exterior e no Brasil, que deverão começar em março, segundo o cronograma da Amazonastur.

    COPA VERDE

    Localizada no centro do maior Estado da Amazônia, a capital do Amazonas, que conserva 90 % de cobertura florestal, foi escolhida como cidade-sede em 2009 mesmo sem ter nenhum time de expressão no futebol brasileiro. A surpreendente vitória contra a outra forte candidata, Belém (PA), com maior tradição no esporte, pode ser atribuída a uma boa campanha de marketing: Manaus vendeu a marca “Copa Verde” – a “capital da floresta amazônica”.
    Mas a realidade urbana é bem diferente da imagem projetada. Manaus é uma cidade com arborização mínima (com exceção das poucas áreas preservadas por lei), fruto de uma política de urbanização que jamais valorizou a vegetação nativa (incluindo o próprio entorno da Arena Amazônia, onde não se vê árvores).
    A preservação da arquitetura também não é o forte da cidade e a Copa parece ter contribuído para uma perda nessa área. Todos esperavam, por exemplo, que o antigo estádio, o Vivaldo Lima, chamado de Vivaldão,  criado pelo renomado arquiteto Severiano Mário Porto fosse reformado. Mas, apesar da comoção em muitas pessoas que tentaram impedir sua derrubada, ele foi demolido. Somente um novo estádio corresponderia às exigências da Fifa, justificou-se.
    O transporte público também é precário e as prometidas obras de mobilidade foram abandonadas. Entre as mais importantes estavam uma linha de monotrilho que faria a ligação da Zona Norte (a mais populosa de Manaus) ao centro da cidade e o corredor exclusivo para ônibus (chamado de BRT – Bus Rapid Transit). O monotrilho foi orçado em R$ 1,3 bilhão e o BRT em R$ 200 milhões e ambos seriam bancados com recursos públicos locais e federais.
    Ministério Público do Trabalho vistoriou as obras no Aeroporto de Manaus
    Ministério Público do Trabalho vistoriou as obras no Aeroporto de Manaus
    A ausência de dados técnicos fundamentando os projetos, porém, provocou uma série de questionamentos do Ministério Público Federal (MPF), do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria Geral da União (CGU). A sociedade civil também questionou o traçado do monotrilho quando ele ainda estava no papel pela possibilidade de centenas de desapropriações e de impactos em área tombada pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) no centro de Manaus.
    Em outubro de 2013, acatando a uma ação do MPF, a Justiça Federal do Amazonas determinou, em liminar, a suspensão das obras do monotrilho, e orientou a Caixa Econômica Federal a não liberar empréstimos para o governo do Amazonas. Até o momento, não há informações de que o governo estadual tenha recorrido da decisão, mas empresas que ganharam a licitação, em 2011, sim. O caso está no Tribunal Regional Federal (TRF1), em Brasília.

    IRREGULARIDADES PERMANECEM

    O projeto do monotrilho acabou sendo retirado da Matriz de Responsabilidade da Copa e transferido pelo governo do Amazonas para o PAC da Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, mas isso não altera em nada a ação do MPF, já que as irregularidades permanecem como explica o Procurador da República Jorge Medeiros, que atua na área do patrimônio público.
    “O monotrilho não tem a devida especificação do que deve ser licitado. Tem rubricas abertas, que constam apenas como ‘verbas´. Verbas para que? A justificativa que era que apenas depois da licitação é que seria possível determinar. O que é uma temeridade. A lei exige que o detalhamento seja prévio. Isso gera problema concreto porque, se não existe especificação antes, que já é ilegal, no momento posterior, fatalmente vai ter termos aditivos”, diz o procurador, que aponta ainda outra irregularidade identificada no projeto: a falta de observância de exigências da lei federal de 2002 que determina que os modais de transporte devam ser inseridos no contexto do plano diretor da cidade.
    Pública tentou ouvir, diversas vezes, a Secretária Estadual de Infra-Estrutura (Seinfra), Valdívia Lopes, responsável pelo projeto do monotrilho, sem sucesso.
    Já o BRT foi suspenso e substituído por outro projeto, o BRS (Sistema Bus Rapid Service), também fora da matriz da Copa. Orçado em R$ 150 milhões, o BRS começou a ser implantado, de fato, nas últimas semanas e apesar do pouco tempo de funcionamento, vem sendo questionado pela população por ter sido criado sem levar em conta o fluxo real do trânsito na cidade, trazendo mais congestionamentos.
    “O BRT foi retirado da Copa porque ele estava vinculado ao monotrilho. Com os complicadores em relação aos dois, a gente adotou uma medida mais simples”, explicou Antônio Nelson, diretor de engenharia da Secretaria Municipal de Infra-Estrutura (Seminf), responsável pela obra. Os R$ 150 milhões estão sendo bancados pela prefeitura de Manaus, segundo Nelson, mas a administração municipal espera receber do governo federal um empréstimo a fundo perdido da Caixa Ecônomica Federal. “O Ministério do Planejamento aprovou o projeto, mas ele ainda será analisado pela Caixa para ver se o banco libera R$ 125 milhões. Os outros R$ 25 milhões serão do tesouro da prefeitura”, disse.

    UMA ARENA COM O FUTURO A DEFINIR

    O governo do Amazonas terá 20 anos para pagar o empréstimo de R$ 400 milhões ao BNDES destinado à construção da Arena da Amazônia. O restante dos recursos – cerca de 200 milhões, vêm dos cofres do governo estadual. Fazem parte do projeto dois centros de treinamento – o CT Colina e o CT Coroado que custaram R$ 21 milhões e R$ 14 milhões, respectivamente, ao governo do Amazonas.
    As cifras assustam quando se junta a esses gastos o valor estimado para a manutenção da Arena da Amazônia: R$ 500 mil por mês, de acordo com os cálculos feitos com base nos custos do Estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, explica Miguel Capobiango. De onde virá o dinheiro? Isso nenhum gestor sabe responder. Sem uma equipe de futebol de peso (o time melhor ranqueado no futebol brasileiro é o Nacional, que está na Série D) e, por conseguinte, sem atrativo suficiente para chamar público para os 44 mil lugares do estádio, o futuro da Arena Amazônia virou tema de especulação: já circularam rumores de que se faria ali um presídio depois da Copa (mera especulação, logo negada pelo governo) ou um shopping center.
    Miguel Capobiango diz que o governo contratou uma empresa de consultoria “para mapear o que está funcionando no Brasil e no exterior e assim estudar o mercado” de modo a “enfrentar o desafio de manter a arena sem que ela onere o poder público”. Uma eventual evolução do futebol amazonense, atualmente na quarta divisão, também é mencionada: “Com um palco adequado, o futebol passa a ter visibilidade. Se vai (o futebol amazonense) se tornar grande, isso vai depender dos operadores do futebol”, diz, evasivo.
    Autor de representações no Ministério Público Federal e Estadual para tentar evitar a demolição do Vivaldão, o engenheiro industrial Jerônimo Maranhão é mais contundente quando fala no assunto: “A população vai gastar R$ 150 milhões por cada um dos quatro jogos da Copa. E depois? O que vai acontecer? Este estádio vai servir apenas para a população vê-lo todos os dias, quando passar de ônibus em frente a ele”, diz ele.
    Segundo os cálculos do engenheiro, uma reforma com custo máximo de  R$ 200 milhões teria preservado o antigo estádio e poupado recursos públicos. “Se era para atender exigências da Fifa, bastava, por exemplo, inclinar a arquibancada, rebaixar o gramado, entre outras intervenções”, afirma, questionando também o valor estimado para a manutenção do estádio. “Como se chega a esse valor se tudo ali é novo e está na garantia? Se, por acaso, ocorrer algum problema é a construtora que tem que responder por pelo menos dois anos”, diz.
    Miguel Capobiango, o gestor da Copa, diz que não é verdade que a nova Arena se tornará um “elefante branco” como se comenta na cidade. “A Arena vai gerar serviços para a população. Se falava a mesma coisa quando foi construído o Sambódromo, em Manaus, e hoje ele é usado para caramba. Ninguém diz que o Sambódromo é um elefante branco”, diz, referindo-se ao Centro de Convenções de Manaus, mais conhecido como Sambódromo, onde acontecem atividades culturais e shows musicais.

    O FIM DA NASCENTE DE UM IGARAPÉ

    Manaus é uma cidade cortada por centenas de cursos d’água conhecidos localmente como igarapés – microbacias que, juntas, vão formar um grande rio. No caso de Manaus, o rio Negro, o segundo maior do mundo em volume de água, atrás apenas do rio Amazonas.
    “A importância dos igarapés está na sua atividade biológica e química. A presença de um igarapé, além de indicar a qualidade do ambiente, também atesta a qualidade do solo. É esse ambiente que mantém a sustentabilidade da Amazônia”, explica o pesquisador Sérgio Bringel, da Coordenação de Dinâmica Ambiental do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) doutor em Hidrogeoquímica e membro do Conselho de Recursos Hídricos do Amazonas.
    A maioria dos igarapés de Manaus estão poluídos e/ou foram aterrados  para obras de urbanização. Os poucos que sobrevivem estão em áreas de proteção ambiental (APPs). Ainda assim, não tem a vida garantida: durante  as obras de ampliação do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, por exemplo, uma das nascentes do Igarapé da Água Branca, localizado no bairro Tarumã, zona Oeste de Manaus, foi soterrada. Áreas de vegetação nativa também foram suprimidas. A obra faz parte da Matriz de Responsabilidade da Copa.
    Nascente do Igarapé da Água Branca foi soterrado (Foto: Jó Farrah)
    Nascente do Igarapé da Água Branca foi soterrado (Foto: Jó Farrah)

    A área impactada é conhecida como APP do Aeroporto foi atingida com o aval do órgão estadual Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), que concedeu a licença para a obra. A nascente que desaguava em um igarapé maior, o Tarumã-Mirim, alcançando então o rio Negro, não existe mais.
    O jornalista Jó Farrah, morador do Tarumã e ativista em defesa da floresta e da fauna silvestre e dos igarapés que ainda resistem por ali, denunciou os danos mas já era tarde para salvar a nascente.  “Começamos a fazer denúncia no facebook no perfil do Igarapé da Água Branca e exibimos fotos. Fizemos a mesma denúncia na comissão ambiental da Assembleia Legislativa do Amazonas e depois uma visita técnica. Fomos no local e identificamos que não tem mais jeito. Soterraram tudo”.
    A Infraero, responsável pelo Aeroporto Eduardo Gomes, foi acionada e, segundo Farrah, admitiu que a obra foi feita no local por opção, já que outro traçado poderia forçar desapropriações de residências, aumentando os custos. “A Infraero justificou dizendo que só havia aquela área para fazer a obra. Desapropriar sairia caro. Saiu mais barato destruir a floresta e impactar o igarapé”, diz o ativista.
    Desolado, Jó Farrah diz que o Igarapé da Água Branca, um dos poucos de Manaus que tem água limpa, perderá volume com o desaparecimento da nascente. “O igarapé da Água Branca tem água cristalina, e pura e fria. Abastece e oxigena as águas poluídas da bacia do Tarumã-Mirim. Em suas águas peixes como matrinxãs, traíras, bagres, carás , sardinhas e jaraquis crescem até o tamanho certo para migrar para os rios. Sem esse igarapé este fluxo de vida morre”, diz Jó.
    Igarapé Água Branca (Foto: Jó Farrah)
    Igarapé Água Branca (Foto: Jó Farrah)
    Farrah também conta que durante as obras, o barro do aterro foi lançado na parte limpa do igarapé e muitos buritizais (palmeira típica da Amazônia) morreram soterrados pela lama. “Fizemos uma reunião com a Infraero, que se comprometeu a realizar ações de mitigação. Mas não sabemos quais serão. Agora, também passaremos a fazer outras cobranças. Com a ampliação do aeroporto, queremos saber para onde vão os efluentes já que a demanda de passageiros vai aumentar. Para onde vão jogar os resíduos? Para outros igarapés, para o rio Negro?”, questiona.
    O pesquisador Sérgio Bringel explica que quando uma microbacia, como um igarapé, é impactada, além do desaparecimento de uma fonte natural e da vida que ali existia, também ocorrem danos ao solo. Ao ouvir da Pública o caso da nascente do Igarapé Água Branca, ele não tem dúvidas em classificar a obra como um crime ambiental. E, se houve licenciamento ambiental então também houve “falta de responsabilidade do órgão responsável”, ele diz.
    A assessoria de imprensa da Infraero informou que, em janeiro passado, a Infraero obteve do órgão ambiental licença de instalação e disse que “todos os procedimentos administrativos e técnicos referentes ao licenciamento foram adotados previamente junto ao órgão ambiental competente”, e que “aguardará pela manifestação do órgão licenciador sobre possíveis impactos ambientais”.
    Procurada, a assessoria do Ipaam informou que a obra foi licenciada e que “se houver irregularidades e descumprimento das condicionais constantes da licença ambiental”, o órgão vai tomar medidas cabíveis e divulgá-las.
    Com um orçamento de R$ 444, 46 milhões, a ampliação do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes é uma promessa antiga, ressuscitada pela Copa. Com as obras, a capacidade do aeroporto, atualmente de 6,4 milhões de passageiros ao ano, subirá para 13,5 milhões ao ano, segundo a assessoria da Infraero.
    Mas, além dos prejuízos ambientais, as obras do aeroporto também foram questionadas por irregularidades trabalhistas. Chegaram a ser interditadas por determinação judicial em processo movido pelo MPT. No início de fevereiro, após audiência com o MPT, as obras foram retomadas. Segundo a assessoria de imprensa a previsão é que ele seja reinaugurado no final de abril.

    BARCOS, PALAFITAS E VISTA DO RIO NEGRO

    Quem passa apressado pela avenida Lourenço da Silva Braga, mais conhecida como Manaus Moderna, pouco tempo tem para observar os detalhes de um dos lugares mais degradados do centro da cidade e, ao mesmo tempo, um dos que possuem a vista mais bela da capital amazonense – o rio Negro. Apesar da paisagem, os turistas que visitam Manaus são direcionados para áreas mais arejadas e elitizadas da cidade, como a região da Ponta Negra, na zona Centro-Oeste da cidade.
    Casas no Igarapé de Educados. (Foto: Valter Calheiros)
    Casas no Igarapé de Educados. (Foto: Valter Calheiros)
    Se um cidadão se dignar a circular na estreita calçada (com vários trechos quebrados) da artéria permanentemente congestionada, vai logo perceber porque ali não há turistas. Basta se escorar na frágil mureta que a circunda e olhar para baixo para uma vista inesquecível: uma orla suja, cheia de lixo e uma fileira de embarcações atracadas no igarapé de Educandos, um dos principais e maiores cursos d´água de Manaus.
    Um olhar desatento nem imagina que mora gente ali. Mas é na margem do Igarapé de Educandos, que Eliane Nascimento, 36 anos, trabalha como vigia de embarcações junto com o marido, Pedro dos Santos, e vive há cinco anos com os oito filhos em um barco cujo proprietário sumiu. “Eliane, você acompanha notícias sobre a Copa em Manaus? Sabe o que significa isso?”, pergunto. “Olha, sei pouco. Dizem que vai trazer coisas boas, mas não sei que é. Não falam para gente disso. A senhora sabe?”, pergunta de volta Eliane.
    “Será que vão melhorar as coisas aqui na época da Copa?”, entra na conversa Estônia Gomes, 53, comandante de outro barco ancorado. Estônia trabalha no comando do “timão” do barco transportando produtos extrativistas de cidades do interior próximas para comercializar em Manaus. Passa a maior parte do tempo no rio, mas tem residência fixa.
    Palafitas do Igarapé de Educandos. (Foto: Elaíze Farias)
    Palafitas do Igarapé de Educandos. (Foto: Elaíze Farias)
    “Seria bonito se limpassem, tirassem essa sujeira toda que se acumula há anos”, sonha Estônia. “Olha, a gente não tem nem água limpa para beber. Não tem torneira. Eu compro água do outro lado do rio, num posto de gasolina e encho várias garrafas de refrigerante PET. Imagine só. A gente morando na cidade onde tem um rio desse tamanho”, lamenta.
    A cerca de 300 metros dos barcos ancorados estão as palafitas, cujos donos não sabem até quando vão ficar. As moradias erguidas em estacas de madeira com mais de 30 metros para resistir à cheia do rio, que davam a Manaus o aspecto de “cidade flutuante”, perderam sua aura romântica entre o odor do esgoto e o lixo jogado no rio. Os canoeiros continuam a fazer o transporte entre as orlas e as casas, oferecendo serviços pagos. Foi de uma canoa, que a Públicaconseguiu conversar com alguns moradores, que ainda sonham com melhorias também na área de Educandos. “Estou aqui há 15 anos. Gostaria de sair, mas para onde vou? Se Deus permitir, eu saio. Ou me tiram. Mas, pra ser sincera, eu gostaria de ficar. Se ao menos limpassem o igarapé. Está muito sujo”, diz dona Juraci de Souza, 54 anos.
    A comandante de barco Estônia Gomes. (Foto: Elaíze Farias)
    A comandante de barco Estônia Gomes. (Foto: Elaíze Farias)

    POLÍTICAS PÚBLICAS

    A reportagem tentou saber da Prefeitura de Manaus se a administração tem planos de revitalização, reforma ou melhorias para a área da Manaus Moderna. Afinal, a atual gestão da prefeitura criou uma pasta, Secretaria Municipal do Centro, apenas para responder demandas da área. Pela assessoria de imprensa, porém, soube que aquele trecho não faz parte da atuação desta secretaria.
    A Secretaria Municipal de Infra-Estrutura (Seminf) sinaliza com um projeto de revitalização do centro, estimado em R$ 1 milhão, que inclui pavimentação, faixa exclusiva para pedestres, balcões com baias para estacionamento e bilheteria para passageiros que usam barcos para viajar. Os recursos viriam da Caixa Econômica Federal, mas o banco ainda está analisando o projeto, segundo Antônio Nelson, diretor de engenharia da Seminf. “Esperamos que a Caixa libere esse recurso, que são sobras aplicadas em um outro projeto anterior e que só podem ser investidas no centro”, disse Nelson.
    Como política pública para os moradores das palafitas há o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim) que realiza assentamento de famílias, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), principalmente quando afetadas por inundações durante o período de chuva. Essas famílias são reassentadas em unidades residenciais de baixa renda, e os igarapés canalizados, embora os pesquisadores da área de recursos hídricos em Manaus afirmem que o ideal seria revitalizar os cursos d´água e não aterrá-los.
    Juraci de Souza, em palafita no Igarapé de Educandos. (Foto: Elaíze Farias)
    Juraci de Souza, em palafita no Igarapé de Educandos. (Foto: Elaíze Farias)
    Sobre o Igarapé de Educandos, a assessoria de imprensa do Prosamim disse que ainda não há projeto destinado às (aproximadamente) 500 casas, e que as melhorias estão sendo realizadas em outros áreas de igarapés da cidade.  A Pública também visitou o Igarapé dos Franceses, no bairro Alvorada I, próximo ao estádio. Além de residências humildes, encontrou dois campinhos de futebol, desolados e precários, cercados por um terreno baldio. Quase nada de área verde. “A maior parte dessa vegetação é mato. E ainda temos um  igarapé poluído, sujo, que tem mau cheiro. E isso há poucos metros da arena”, disse o comerciante Francisco Gonçalves, de 80 anos, que circulou todo o trecho do Igarapé dos Franceses, um curso d’agua manso e poluído, com aPública (mas não aceitou sair na foto).
    “Moro aqui perto mas eu nem sei dizer o que penso sobre isso [a Copa]. Estou preocupado sobre o que vai acontecer com os moradores durante os jogos. Imagine como vai ficar isso aqui”, diz.

    FALTA DE ÁGUA NA CAPITAL DA “RAIN FOREST”

    Há aproximadamente 40 anos, Manaus era uma cidade com pouco mais de 400 mil habitantes. Hoje, são quase dois milhões, segundo o Censo do IBGE de 2010, e os bairros que eram considerados como zona Norte já foram engolidos pela região central. A atual zona Norte forma com a zona Leste a “periferia” da capital, carregando todos os estigmas sociais dessas áreas.
    São bairros nascidos de ocupação irregular que foram sendo urbanizados (a maioria das vezes de forma precária) por pressão dos seus moradores. Rraramente aparecem nos anúncios publicitários, com suas ruas esburacadas e mal iluminadas, tragadas por erosões, sistema de transporte público caótico, fornecimento de água irregular.
    Cano de água exposto na rua do bairro Nova Floresta. (Foto: Valter Calheiros)
    Cano de água exposto na rua do bairro Nova Floresta. (Foto: Valter Calheiros)
    Um  exemplo desse microcosmo da periferia de Manaus é o bairro Jorge Teixeira, localizado na zona Leste e dividido em 13 comunidades. Uma delas se chama João Paulo, formado por três blocos (etapas, dizem em Manaus).
    Salatiel Cordovil dos Reis, 61 anos, é um dos moradores da etapa 3 e também a principal liderança comunitária. Para respaldar suas críticas, reclamações e denúncias contra descasos aos moradores, carrega sempre um exemplar da Constituição de 1988.
    Um dos maiores “abusos” cometidos pelas autoridades, diz, é a cobrança de tarifa de água a que são submetidos há vários anos os moradores do bairro. A indignação tem um motivo simples: os moradores nunca tiveram fornecimento de água da concessionária privada Manaus Ambiental (nome adotado há dois anos, quando até então se chamava Águas do Amazonas).
    “Deixei de pagar conta de água há vários anos pois nunca tive água em casa. Meu nome, assim como de outros moradores, foi parar no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), e está lá até hoje. Entramos na justiça para não pagar”, conta Salatiel, que elenca vários outros problemas da cidade: transporte público insuficiente, carência de posto de saúde, ausência de obras de melhorias das vias públicas, etc.
    No final do ano passado, após muita pressão popular, a prefeitura e a concessionária de água firmaram um acordo para levar abastecimento de água aos moradores da zona Leste e há dois meses, segundo os moradores, a água começou a chegar, embora ainda sem regularidade e qualidade.
    “Vem suja, poluída, com gosto ruim. A gente usa para lavar louça e tomar banho, mas não para beber. Muita gente daqui de casa passou mal e voltei a comprar água mineral”, diz a dona de casa Ângela de Souza, 27, moradora da rua Erva Doce, no Jorge Teixeira. Ângela também está endividada e com o “nome sujo”. Ela acumula faturas da concessionária de água cujo valor mensal médio é de R$ 600.
    “Nunca tivemos água e continuamos recebendo faturas com esse valor. Não entendo como eles medem. Por isso decidir nunca pagar”, diz Ângela, cuja rua exibe várias crateras enlameadas por causa de vazamentos feitos pela concessionária para supostos consertos.
    Pública visitou outras ruas do bairro Jorge Teixeira e os bairros Nova Floresta e Grande Vitória, também na zona leste. Em várias partes dos bairros encontrou tubulações de água expostas na rua, sem proteção – até pouco tempo os moradores retiravam água de poços artesianos particulares. No bairro Nova Floresta, um morador foi flagrado retirando água de um cano quebrado da calçada e se justificou dizendo que ela vem mais limpa do que a que vai direto para as casas.
    Francisca de Souza mostra contas de água. (Foto: Valter Calheiros)
    Francisca de Souza mostra contas de água. (Foto: Valter Calheiros)

    No bairro Grande Vitória, a aposentada Francisca de Souza, 74, mostrou várias faturas de água que também nunca pagou: apesar de prometido, o abastecimento de água ainda não chegou e ela continua tirando água de um poço artesiano de um vizinho, para quem pagou R$ 700 pelo direito de uso. Sobre o que acha da Copa em Manaus,  Francisca disse: “Se vai trazer benefícios, de certeza não será para mim, nem para a minha família, nem para o meu bairro. Para ser sincera, eu nem sei o que significa isso de benefício de que tanto falam”.
    A Manaus Ambiental diz que o fornecimento e a rede de distribuição de água atende a 98% da população de Manaus e que até março pretende ampliar a cobertura para 100%.  Também disse ter incorporado 16 mil novas ligações de água ao sistema atual e que vários bairros das zonas Norte e Leste estão sendo atendidos pelo Programa Águas para Manaus (PROAMA).
    Em relação à qualidade da água, a Manaus Ambiental informou que a água tratada e distribuída pela concessionária atende integralmente todas as exigências da Portaria 2914/11 do Ministério da Saúde.