PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

SALVEM A SELEÇÃO: ALDO REBELO DIZ QUE É PRECISO RECUPERAR A CONFIANÇA NO TIME NACIONAL.

FONTE: http://placar.abril.com.br/copa-do-mundo-2014/aldo-rebelo/entrevistas/salvem-a-selecao-aldo-rebelo-acredita-que-e-preciso-recuperar-a-confianca-no-time-nacional.html?utm_source=redesabril_placar&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_placar

Para o Ministro Aldo Rebelo, obras estão em dia, mas é preciso recuperar a confiança no time nacional antes do Mundial.

Foto: Renato Pizzutto
 
"[A seleção] passa por um processo de desgaste. Às vezes o dano é momentâneo. Em um dado momento, isso pode ser irreversível. E aí é uma perda para o futebol e para o país."
 
Por Marcos Sergio Silva, Maurício Barros e Sérgio Xavier Filho, da PLACAR
 
O Brasil criou um bordão para quando as coisas não funcionam, que é o “imagina na Copa”. Hoje em dia, o sentimento parece ser o de não confiar que somos capazes. Qual a estratégia para virar essa chave e a população abraçar esse evento?
O Brasil tem uma corrente de opinião muito antiga, carregada de pessimismo, de desconfiança da própria capacidade do país. Não é uma coisa de hoje nem do Brasil; nós trazemos de herança dos portugueses. Camões retrata esse personagem no velhinho do Restelo, que amaldiçoava as navegações, dizia que aquilo era uma aventura desnecessária. Nós temos esse pessimismo atávico, cultural. Mas ao mesmo tempo nós temos o otimismo dos navegantes — de ir ao mar de qualquer maneira. Há outra corrente, aquela que tem medo de dar errado. O que precisa ser feito é mostrar que nós temos condições de realizar a Copa. Não vamos estrear em grandes eventos. Fazemos o Carnaval, que recebe mais turistas que a Copa. A Copa atrai um grande número de turistas, mas compensa essa atração com o refluxo de algumas atividades que são transferidas para outras épocas. Normalmente, São Paulo tem grandes feiras, congressos,eventos.
 
Provavelmente, durante a Copa, as pessoas não os marquem e parem de viajar. Deu para ver isso agora em Londres, na Olimpíada. O turista tradicional afastou-se, foi substituído pelo turista olímpico. Por essa razão não se notava uma grande massa humana em Londres. Dá para fazer bem a Copa. Claro que não vamos fazer a coisa perfeita, mas, se olhar para Londres, a Olimpíada não foi perfeita. Nada foi desmarcado, a recepção foi muito boa, mas teve problema de trânsito, de segurança. O presidente da autoridade olímpica do Brasil foi assaltado em Londres. A mala do presidente da Embratur, Flávio Dino, foi bater em Roma. Eu tive que desmarcar entrevistas porque as pessoas não conseguiam chegar no horário por causa do tráfego. Apesar disso, a Olimpíada foi um sucesso.

Foto: Alexandre Battibugli
 
"Não vamos fazer a coisa perfeita, mas, se olhar para Londres, a Olimpíada não foi perfeita. Teve problema de trânsito, de segurança."
 
Na Copa, a preocupação talvez seja com a violência de torcedores estrangeiros. Como controlá-los?
Temos que cuidar da segurança pública em várias esferas. Para o cidadão, para o turista, para as delegações. E a segurança para prevenir a violência de torcedores. Neste caso, a polícia mapeia e trabalha em conjunto com as forças policiais da possível origem desse tipo de torcedor. No caso da torcida argentina, é um trabalho conjunto da polícia brasileira com a deles. É preciso que seja identificado já no próprio país. As listas [passadas pelos clubes à polícia, com os torcedores afastados por violência] são uma maneira de prevenir. O torcedor com precedente de violência não deveria ter acesso aos jogos da Copa do Mundo. Essa deveria ser também uma regra pedagógica, educativa, para que todos conheçam e considerem as consequências desse tipo de prática.
 
A cerveja no estádio interfere no comportamento da torcida?
Interfere se não houver controle nem fiscalização. Todos os estádios da Europa vendem cerveja e em grande quantidade. Não há registro de ampliação da violência por essa razão. Quando há, a polícia age e contém os exageros dentro dos limites civilizados. O futebol está associado ao lazer, à diversão. Os europeus permitem o consumo dentro dos limites — não se pode levar bebida para a arquibancada, não se pode beber durante o jogo. A gente deveria incentivar regras assim, que coibissem o abuso e o acesso de menores.
 
Até porque a cerveja é vendida clandestinamente fora do estádio e se bebe com uma rapidez impressionante. Na prática, o álcool já é permitido…
Já é. Creio que a violência não está associada às bebidas. Essas pessoas que se prepararam para essas batalhas que resultam em morte, a minha impressão é que nem álcool elas conconjunsomem, para não dispersar energia e o objetivo da violência. Hoje as guerras acontecem muito longe dos estádios, porque os estádios já têm mais fiscalização. O combate à violência precisa de instrumentos mais eficazes. Não é a proibição de bebidas que vai resolver isso.
 
Reconhecer legalmente a existência dessas torcidas seria um primeiro passo?
Eu acho que sim. Eu também penso que simplesmente proibir a existência de uma torcida organizada não resolve. É apenas empurrar para ação clandestina, que é a mais difícil de acompanhar e fiscalizar. As torcidas devem ser permitidas, com controle e fiscalização e punição rigorosas. Quando houver a certeza da punição, a violência tende a diminuir.
 
A Fifa entendeu o tamanho do Brasil? Sabe que aqui o Congresso funciona, que tem regras? Essa percepção do lado de lá já está clara?
Acho que nos entendemos bem. Eu disse desde o começo que o Brasil, como a Fifa, tem todo o interesse em fazer da Copa um evento de sucesso. Estamos dispostos a cooperar com o que estiver ao nosso alcance. Nosso limite é o interesse público e nacional, que não podemos contrariar. Quando houver um tipo de conflito, vamos procurar uma saída intermediária para não estabelecer nenhum conflito insolúvel. Acho que isso foi entendido, que nós tínhamos muita honra de encarar a Copa, mas já fizemos coisas mais difíceis e importantes, inclusive uma Copa, em 1950, quando o mundo havia saído de uma guerra.
 
Nesse aspecto, o episódio “chute no traseiro” [o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, disse que a organização da Copa “merecia um chute no traseiro”] ajudou a estabelecer limites?
Eu acho que eles não esperavam uma reação mais dura do Brasil. A interferência do [presidente da Fifa] Joseph Blatter e o pedido de desculpas do secretário-geral ajudaram a estabelecer um novo padrão na relação da Fifa com o governo. Tanto que o movimento seguinte foi a entrada do governo no comitê local, em um acordo feito com a Fifa sem qualquer tipo de problema. Isso também ajudou a contornar esse tipo de dificuldade.
 
Que nota o senhor dá hoje para a organização da Copa?
As obras estão em dia, principalmente as consideradas essenciais. A matriz de responsabilidade, dasobras de mobilidade urbana, não é exigência da Fifa, mas uma condição do governo brasileiro para fazer a Copa melhor, com mais conforto. O que a Fifa considera essencial são os estádios, que estão em dia — não creio que vá haver um estádio com problema para 2014. Os aeroportos também vão estar em dia. Nós precisamos melhorar a infraestrutura aeroportuária, para pouso e decolagem, para receber passageiros, o tempo que leva para carimbar o passaporte, para despachar e pegar a bagagem… Não precisa esperar a Copa para melhorar, isso já está sendo melhorado para uso hoje.
 
O senhor disse que não há problemas com os estádios, mas os de Recife, para a Copa das Confederações, e de Natal, para 2014, preocupam. Como analisa esses dois casos?
No nosso controle, que é diário, eles estão em dia. O que pode dizer é que alguns têm uma folga, uma flexibilidade de prazos. Alguns estão no limite, mas dentro do prazo — inclusive o de Natal. No caso de Recife, é um esforço para a conclusão física para a Copa das Confederações. É preciso que esteja pronto até novembro, porque aí você passa a vender os ingressos, as cotas de patrocínio, a mídia local tem que se preparar para isso. Não podemos deixar para a última hora.
 
Como o senhor viu a dissolução do Clube dos 13? É melhor para os clubes negociarem suas dívidas em bloco ou individualmente? Ela foi negativa ou positiva para o futebol brasileiro?
A minha convicção é que sempre que você negocia seus interesses coletivamente você negocia com uma posição de mais força. Eu acho que cada clube que procurar resolver seu problema individualmente, mesmo o que alcançar o melhor resultado, sai enfraquecido da experiência. Os clubes deveriam buscar dos patrocinadores, das TVs, uma posição conjunta. E valorizar ainda mais o ativo que eles vendem, que é a imagem de seus clubes, democratizando essas agremiações, submetendo a administrações profissionais. Isso valoriza muito mais a marca. Muita gente tem receio de expor sua empresa em um clube que pode ter problema amanhã na Justiça.
 
A forma como o futebol brasileiro se organizou acabou fortalecendo demais uma entidade privada, que é a CBF, que tem certa dificuldade de renovação. Democracia sem renovação não parece meio capenga? Tem algo a ser feito? O senhor torce que haja uma renovação no poder?
Não só torço, mas trabalho para isso. O país vem conhecendo um processo de valorização da democracia. E ela atinge também outras instituições. O esporte é um tema de interesse público. Não é nem principalmente nem apenas um negócio. A Copa do Mundo e a Olímpiada não surgiram da cabeça de um executivo de finanças. As nossas instituições que organizam o esporte podem adotar uma regra muito simples: que o mandato tenha limite de tempo e com limite no número de mandatos. Nós estimulamos que elas [as confederações] adotem essa posição. Isso é útil para o esporte e para essas entidades. Se adotarem essas regras, vão ter muito mais credibilidade, vão valorizar muito mais a modalidade que elas organizam, vão ter mais facilidade para arrumar patrocinadores. É preciso uma gestão mais profissional, que dê mais confiança para entregar recursos públicos ou privados para a prática dos esportes.
 
As confederações dependem do repasse de verbas do governo federal. Exigir que dirigentes não se perpetuem no cargo pode ser uma contrapartida do estado para liberar esse dinheiro?
Podemos adotar. Há em curso uma regulamentação da Lei Pelé que já acrescenta regras importantes para o acesso ao recurso público. Não é tornar obrigatória a adoção dessas medidas. A entidade pode até não adotar essas medidas e optar por ficar com asua regra, mas não terá certos benefícios se não aderir a uma orientação democratizante da gestão.
 
O senhor já disse que a CBF era uma caixa-preta. Como exigir transparência de uma entidade privada?
Essas instituições vão dando passos para sua modernização porque elastambém precisam de uma aceitação social e política. Elas são privadas até determinado limite. Uma instituição que tem por atribuição organizar a vida do futebol no Brasil tem uma dimensão pública incontornável. E uma responsabilidade pública também. Tanto que seus dirigentes são personalidades públicas, que se cobram atitudes do interesse público. Mesmo que a lei não obrigue, ela precisa adotar regras mais transparentes e democráticas.
 
A seleção, como um símbolo nacional, está desgastada?
Ela é um símbolo do Brasil para a população e o mundo inteiro. O que mais expressa a forma e o imaginário do brasileiro que a seleção? Lamentavelmente, ela passa por um processo de desgaste da imagem. Não só pela superexposição da marca, com esses jogos contestáveis — não se sabe se eles ajudam a preparar a seleção ou se é só para o patrocinador —, e parte desses jogadores já não se forma mais no país e não tem mais identidade com o futebol e os clubes daqui. Os dirigentes precisam levar isso em conta. Às vezes o dano é momentâneo, as pessoas contestam ali, mas depois se encontram com a seleção e se identificam. Em dado momento, isso pode ser irreversível. E aí é uma perda para o futebol e para o país. Restaurar a confiança na seleção é um esforço para consolidar o apoio à realização da Copa no Brasil.

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