PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

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sábado, 16 de fevereiro de 2013

PROTESTO ENVOLVENDO TATU-BOLA SEGUE REPERCUTINDO ENTRE POLICIAIS E ATIVISTAS DE PORTO ALEGRE.

Na ocasião, mascote da Copa foi desinflado.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Samir Oliveira
Quase cinco meses se passaram desde que centenas de jovens se reuniram em frente à prefeitura de Porto Alegre para protestar contra a privatização dos espaços públicos da cidade. O ato foi convocado pelo movimento Defesa Pública da Alegria através das redes sociais e teve início na tarde do dia 4 de outubro de 2012.
O desfecho trágico que marcou o evento ocorreu no final da noite, quando os manifestantes se dirigiram ao Largo Glênio Peres para cantar e dançar em volta de um imenso mascote da Copa do Mundo de 2014, patrocinado pela Coca Cola, que estava no local – um dos motivos do protesto era, também, a remoção de famílias pobres para a execução de obras em função do evento esportivo. Na ocasião, cerca de 20 policiais militares faziam a guarda do boneco e não impediram a aproximação dos jovens. Entretanto, quando os manifestantes ultrapassaram a grade de contenção do mascote, começou a ocorreu uma repressão física à atitude dos integrantes do protesto – exacerbada pela chegada do batalhão de choque ao local.
A partir desse momento, teve início uma espécie de batalha campal que contou com bombas de gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha por parte da polícia e algum revide por parte dos manifestantes, que se preocuparam em fugir da perseguição. Pelo menos um jovem confessa ter reagido à agressão de um policial e revidado os golpes, e há registro de uma viatura da Brigada Militar com o para-brisa totalmente danificado.
Manifestantes foram agredidos com bombas de gás, balas de borracha e golpes de cassetetes | Foto: Ramiro Furquim / Sul21
O relatório da Ouvidoria da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul ouviu mais de 60 manifestantes agredidos, coletou imagens das lesões e cenas filmadas durante o protesto. O material foi finalizado no dia 31 de outubro e entregue à Polícia Civil, ao Ministério Público, à Brigada Militar, ao secretário Airton Michels (PT) e ao governador Tarso Genro (PT). A conclusão da ouvidora Patrícia Couto foi de que a Brigada Militar e a Guarda Municipal haviam iniciado as agressões.
O inquérito instaurado pela 17ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre já foi concluído. Responsável pela investigação, o delegado Hilton Müller entende que não foi possível identificar os agressores durante o protesto. Além disso, ele foi a primeira autoridade pública a reconhecer que, ao contrário do que vinha sendo divulgado, o mascote da Copa não havia sido depredado pelos ativistas. Conforme noticiado à época em primeira mão pelo Sul21, o boneco havia sido somente desinflado e encontrava-se em condição de ser utilizado novamente.
Como ele está de férias, a reportagem conversou com sua substituta, a delegada Carmen Régio. Ela afirmou que nenhuma vítima conseguiu identificar quem foi seu agressor, tanto por parte dos policiais quanto dos manifestantes. Os únicos indiciamentos judiciais resultantes do inquérito foram o de dois manifestantes acusados de depredação do patrimônio público.
Além disso, há, ainda, um Inquérito Polícial-Militar (IPM) em andamento sendo conduzido pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC). A reportagem tentou entrar em contato com o comandante do CPC, coronel Almir Freitas, mas não obteve retorno.
Viatura da Brigada Militar foi danificada | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Outros desdobramentos do caso ocorrem na Justiça. Alguns manifestantes ingressaram com ações para reivindicar reparação por dano moral em função das agressões infligidas pelos policiais. Dentre esses casos, está o do garçom que trabalha no Chalé da Praça XV na noite do protesto. Sem nenhuma participação na manifestação, ele foi agredido por mais de cinco policiais ao mesmo tempo ao sair do trabalho.
Situação de soldado ferido gera polêmica e revolta entre policiais
A maior polêmica recente envolvendo desdobramentos do protesto da Defesa Pública da Alegria diz respeito ao caso do soldado Eriston Mateus de Moura Santos, que foi agredido com um pedra ou paralelepípedo na cabeça. Na ocasião, seu capacete quebrou com a pancada e ele levou oito pontos no couro cabeludo.
Cerca de 40 dias após o confronto, o soldado começou a perder os movimentos dos braços e pernas. Atualmente, ele se encontra internado em estado praticamente vegetativo no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre.
Essa situação levou uma série de policiais militares a condenar os integrantes do movimento pelo estado do soldado. Através das redes sociais, principalmente da página Fardados e Armados, no Facebook, os policiais não poupam críticas e ameaças aos jovens, ao comando da Brigada Militar e ao governo gaúcho. Parte da corporação diz que o soldado foi abandonado pelo comando da BM, acrescentando que há uma movimentação política no sentido de ignorar a situação.
Uma nota oficial da Brigada informa, entretanto, que a condição do soldado Eriston não se deve à lesão que sofreu no dia do protesto. “O servidor apresenta a doença denominada ENCEFALITE AUTOIMUNE e seu estado de saúde é grave. A doença é causada a partir da produção de anticorpos pelo sistema autoimune do paciente, acarretando danos ao seu próprio sistema nervoso central. A atual doença do paciente não tem relação com o trauma que ele sofreu no episódio de ataque ao boneco Tatu-Bola, no Centro de Porto Alegre, no início de outubro de 2012. Na ocasião, o policial militar foi atingido por uma pedra em seu capacete e encaminhado ao Hospital de Pronto Socorro, onde realizou exames de imagem e fez a sutura de oito pontos no couro cabeludo. No mesmo local, foi avaliado pelo médico de plantão da Brigada Militar e encaminhado ao Hospital da Brigada Militar de Porto Alegre (HBM/PA), tendo sido submetido a exames de imagem, que não evidenciaram lesões neurológicas”, explica a corporação.
Jovens voltaram a ocupar as ruas em dois novos protestos contra a repressão policial | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
A reportagem do Sul21 entrou em contato com o Hospital Ernesto Dornelles para obter informações sobre o atual estado do paciente, mas a assessoria da instituição disse que a família do soldado não autoriza a liberação dos dados referentes à sua doença. Em uma reportagem enviada por um leitor ao portal Terra, há a declaração de um neurologista que estaria atendendo o policial. “A suspeita é de que se trate de uma doença autoimune chamada encefalite NMDA. A doença é considerada bastante rara, e o exame, feito nos Estados Unidos, pode comprovar o diagnóstico”, sustenta o neurologista Ricardo Fantin, de acordo com o texto.
Policiais ameaçam manifestantes através das redes sociais
A comoção em torno do caso do soldado Eriston Mateus de Moura Santos gerou revolta entre a comunidade policial. O jornal Correio Brigadiano, mantido por um oficial da reserva, publicou, na edição de janeiro deste ano, imagens fortes sobre o estado do policial.
Na página Fardados e Armados, que conta com mais de 15 mil adeptos no Facebook, há um manifesto solicitando auxílio à família do soldado. Nessa mesma postagens, centenas de policiais publicaram mensagens de ódio em relação aos manifestantes do grupo Defesa Pública da Alegria e até mesmo contra o governo do estado. Muitos chegaram a sugerir que, durante protestos em frente ao Palácio Piratini, os brigadianos abandonem o posto e permitam a ocupação da sede governamental.
Em resposta a um comentário feito pelo músico Ricardo Bordin, integrante do movimento, um policial militar escreveu que “só seu esquartejamento me deixa feliz”. Outro integrante da comunidade Fardados e Armados comentou que “seria um prazer espancar cada um daqueles ‘estudantes’ vagabundos (…) na próxima tem que se unir e destruir todos!!!”.
Ricardo assegura que outros integrantes do movimento também vêm recebendo esse tipo de ameaça através de seus perfis no Facebook.

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