O acarajé vendido por baianas é uma tradição do futebol em Salvador, tombada pelo Iphan.
Rodrigo Durão Coelho
Do UOL, em São Paulo
Divulgação/Baianas do Acarajé
A Fifa informou na última sexta-feira que irá permitir que as tradicionais
vendedoras de acarajé que trabalham nas ruas e praças esportivas de Salvador
(BA) possam comercializar o produto na Arena Fonte Nova e nos arredores do
estádio durante as partidas da Copa do Mundo de 2014.
A posição representa um recuo da entidade em relação à sua postura até então.
No começo de outubro, a Fifa informou que, durante a Copa, a comercialização de
alimentos nos estádios e arredores seria feita apenas pela empresa que vencer a
concorrência promovida pela entidade, cujo resultado deve ser anunciado neste
mês. Pelas regras da entidade, que foram incorporadas à Lei Geral da Copa, em
vigor desde junho do ano passado, é proibida a presença de ambulantes ou
qualquer tipo de vendedor em um raio de dois quilômetros dos estádios da Copa,
salvo com a devida autorização da Fifa.
PATRIMÔNIO IMATERIAL
O Ministério Público da Bahia ameaça ir à Justiça para garantir que as
tradicionais baianas que vendem o acarajé na Fonte Nova não sejam impedidas de
comercializar o produto no estádio e seus arredores durante a Copa do Mundo de
2014.
Na última quinta-feira, o UOL Esporte informou que o
MP-BA
(Ministério Público da Bahia) divulgara recomendação e estava disposto a ir à
Justiça para garantir o direito das baianas do acarajé de
comercializar o produto nas ruas e estádios de Salvador.
Na última sexta-feira, então, a Fifa enviou uma nota à reportagem, afirmando
que “discute com o Comitê Organizador Local para garantir que os interesses das
vendedoras informais, que geralmente vendem o produto dentro do estádio e em seu
entorno, sejam incorporados no planejamento do evento (Copa de 2014)”. A nota
termina dizendo que deseja que “sejam oferecidas a elas o máximo de
oportunidades possíveis de se beneficiar da Copa do Mundo”.
O promotor Ulisses Campos, autor da recomendação do MP-BA para que as
vendedoras de acarajá possam trabalhar durante a Copa, recorda que tanto as
vendedoras como o comércio são considerados patrimônio cultural pelo Iphan
(Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Por isso, ele entende que, se as baianas não forem envolvidas nos eventos da
Copa de 2014, ocorrerá "desrespeito à comercialização de um bem imaterial
tombado pelo Iphan desde 2004”.
“Por nenhuma hipótese será tolerada a comercialização do acarajé por outra
forma que não a tradicional", o que descarta a hipótese de “qualquer
comercialização de acarajé concorrente à das baianas no estádio de futebol ou em
suas cercanias, por parte de empresas, em especial empresas oriundas do capital
estrangeiro”, defende o promotor.
Apesar de a Fifa dizer que discute a participação das vendedoras
tradicionais, a presidente da ABAM (Associação das Baianas do Acarajé e Mingau),
Rita Santos, disse que não foi procurada. “Ainda não consegui nem sugerir para a
Secopa (Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo) ideias para adequar
as vendedoras aos padrões exigidos”.
Ela sugere que sejam dados cursos de segurança alimentar, monitorados por
autoridades envolvidas com a Copa, e que as vendedoras com melhor desempenho
possam vender o acarajé. Uma petição online pedindo que as baianas não ficassem
de fora do Mundial coletou mais de 3.000 assinaturas em poucos dias.
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