Por Afonsinho
Para quem pensou em aproveitar o tempo até a Olimpíada e fazer um apanhado da situação do esporte profissional, mais diretamente do futebol, essa confusão na Fifa vem em boa hora.
Num modelo feito pra funcionar assim, ninguém acredita que um dirigente ou político possa ser um poço de inocência. Isso não justifica nada, apenas deixa claro, mais uma vez, que os movimentos andam em círculos. Períodos se esgotam.
A Fifa funciona com estruturas políticas da época medieval. Confederações, federações, ligas, clubes, dirigentes, torcedores (sócios ou não), funcionários… Atribui-se ao período do brasileiro João Havelange a grande expansão, com a inclusão da África, do Oriente, da Ásia etc. Começa aí uma discussão. Havia uma expectativa de crescimento na África, que fizesse o futebol se desenvolver de modo extraordinário pelas qualidades físicas e capacidade inventiva de seus jogadores. Os negócios se multiplicaram, notadamente nos países árabes com seus petrodólares, mas a qualidade dos espetáculos caiu. Contradição.
Para chegar aos campeonatos principais, as nações precisaram se submeter ao modelo-padrão. Abandonaram as formas próprias de se expressar através do esporte, descaracterizaram-se. Seria o preço a pagar ou uma distorção? Enquanto isso, o mundo se globaliza. Blocos de países se formam, as disputas sofrem transformações. Publicações dão conta de dados expressivos, algo como 38 milhões de jogadores, além de técnicos, auxiliares, preparadores, médicos fisiologistas etc. Clubes grandiosos se espalham pelo mundo dentro da lógica vigente.
Entre valores financeiros, número de torcedores e outros índices, os ingleses são os maiorais. Possuem três clubes entre os dez maiores, seguidos pelos espanhóis e italianos (países economicamente não tão expressivos). Mais um alemão, um francês e um brasileiro recheiam o bolo. Em número de associados, curioso, destacam-se os clubes portugueses. Entre os dez primeiros, três são lusitanos. Outra discussão.
Por muito tempo procurei explicação para o desinteresse dos clubes em aumentar seu quadro social, uma vez que, por princípio, são agrupamentos de sócios. Agora aparece uma onda de campanhas de sócios-torcedores no Brasil. Mais uma fonte de renda, sem poder de decisão, sem participação efetiva na organização do seu clube, mas com grande poder de transformação. Ao mesmo tempo, ainda pela tal lógica, surgem clubes com “donos”. Outra contradição.
Com todo poder da comunicação, ficamos sabendo que a maior fonte de arrecadação ainda é a negociação de jogadores. Uma surpresa desagradável. Os especialistas recomendam procurar novas fontes, e não ficar dependente de apenas uma. Todo esse universo de negócios em tempos de crise econômica não se sabe aonde vai parar. É impressionante, por exemplo, a situação do Glasgow Rangers, de tanta tradição, ameaçado de fechamento.
O presidente da Fifa reconhece as acusações contra seus pares de diretoria, ao mesmo tempo que admite a continuidade de sua atuação dos numerosos (em todos os sentidos) contratos com inúmeros patrocinadores. Para quem pretende mudanças, onde fica o horizonte? O que se pode imaginar como transformação e com que prazo? Houve tempo em que muitas diferenças ameaçavam as relações entre a Fifa e a Uefa, e quem sabe alguma outra confederação. As discordâncias foram contornadas, mas não se sabe até que ponto resolvidas. Qualquer fragilidade estimula turbulências nesse jogo de tão altos interesses.
Enquanto isso, em que situação se vai realizar a Copa do Mundo de 2014 no Brasil? No plano interno, a confusão não é pequena. A política parece acalmada, mas nunca se sabe… Também aqui os interesses são enormes. O descompasso da organização de entidades, clubes e federações é muito grande. A representação dos jogadores, caracterizada pela debilidade, parece não incomodar, mas também precisa amadurecer.
Nos campeonatos das divisões menores, começados com grande retardo, a instabilidade é a marca. Uma incerteza ruim que enfraquece o futebol como um todo. Estão de volta as encrencas com as viagens pela estratégia ou falta dela na distribuição das empresas aéreas feita pela CBF, que assume essas despesas, mas não está preparada para isso. Os jogadores são sacrificados nos deslocamentos desencontrados.
Passei por isso nos famosos campeonatos de cem clubes espalhados por todo o País. As viagens eram repartidas entre as companhias aéreas sem critério técnico. Não foram poucas as encrencas em hotéis e aeroportos.
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