PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

domingo, 20 de maio de 2012

O REI PELÉ CONCEDE ENTREVISTA AO ESTADÃO E DIZ " A GENTE VAI SE SAIR BEM, MAS ESTÁ MUITO ATRASADO".

FONTE: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,a-gente-vai-se-sair-bem-mas-esta-muito-atrasado,875326,0.htm

'A gente vai se sair bem, mas está muito atrasado'

Pelé reconhece problemas na organização da Copa do Mundo e cobra definição de Mano Menezes quanto à seleção

Quando foi convidado pela presidente Dilma Rousseff para ser embaixador da Copa no Brasil, em julho do ano passado, Pelé não imaginou que teria de fazer o papel, como ele mesmo diz, de "bombeiro". Sua função seria promover o evento de 2014 no País e no exterior. Afinal, ele participara dos comitês dos Mundiais dos Estados Unidos (1994), Coreia do Sul/Japão (2002) e África do Sul (2010). No Brasil, no entanto, Pelé se viu diante de obras atrasadas, indefinições, desentendimentos entre dirigentes, disputas clubísticas e construtoras sob investigação. "Não tem por que haver tantos problemas", diz. "Há muita coisa atrasada, mas, se Deus quiser, vamos nos sair bem."

Outro motivo de desconforto para Pelé é a seleção. Ele acredita que o Brasil tem condições de trazer a medalha de ouro de Londres, mas critica a ausência de Arouca, volante do Santos, nas listas de Mano Menezes. Também acha que Dedé, do Vasco, tem lugar certo no time (o zagueiro está machucado) e, sua principal crítica: cobra definição.

"Tem de haver decisão. Dizer a equipe é essa e treinar, senão a equipe olímpica fica na dificuldade que a profissional (a principal) está tendo, sem base." Pelé cita como exemplo João Saldanha, que usou Santos e Botafogo, os melhores times do País no final dos anos 60, para montar a espinha dorsal do time tricampeão no México, em 1970.

No mais, como sempre cheio de compromissos profissionais e ansioso pela conclusão de seu grande projeto no momento, o Museu Pelé, em Santos, o Rei continua encantado com Neymar e, profético, previu na quarta-feira que o Santos terá dificuldade para eliminar o Vélez Sarsfield. Se passar, leva a Libertadores.

Os prazos da Copa estão apertados e um relatório recente da Fifa mostra que as obras de alguns estádios estão muito atrasadas. O que acha disso?
Eu fiz uma brincadeira e disse que a Dilma me convidou para ser embaixador e estou aqui para apagar fogueiras (risos). Há coisas que não dá para a gente entender. Somos todos brasileiros... Um exemplo: a presidente me pediu para ir ao Rio Grande do Sul porque estava dando aquele problema com o Grêmio e o Internacional. A Copa das Confederações já estava decidida que seria no campo do Inter. O Inter atrasou um pouco as obras, o Grêmio adiantou a construção do seu campo e queria dar uma rasteira no Inter. Eu fui falar com o governador (Olívio Dutra): "Somos todos brasileiros, por que essa briga?" Agora, infelizmente, aconteceu esse negócio lá no Rio, no Maracanã, esse problema por causa da (Construtora) Delta, do (Carlinhos) Cachoeira. No próprio Brasil, um evento aqui dentro e essas brigas... Não tem porquê, não dá para entender.

Como integrante do comitê organizador você conseguiu fazer alguma coisa?
A minha missão é mais conversar, como fiz lá no Rio Grande do Sul. Felizmente resolvemos o problema, assim como foi resolvido o do Itaquerão, que não se definia. Felizmente parece que agora vai.

Hoje, você está mais otimista ou preocupado com a Copa?
É evidente que nós somos brasileiros e achamos que temos de fazer a melhor Copa do Mundo. Só como exemplo: eu, como brasileiro, me orgulho muito de ter sido embaixador da Copa no Japão e Coreia, a convite deles. Houve briga porque achavam que deveria ser só Japão e depois entrou a Coreia, e eu estava trabalhando com o comitê japonês, mas saiu tudo bem. Quando os Estados Unidos pleitearam a Copa, eu trabalhei na organização. Eles fizeram uma das Copas mais organizadas, com dinheiro de empresas privadas, sem verba pública. Na África do Sul, o (Nelson) Mandela pediu para dar uma ajuda, e entregamos a Copa. No meu País, você acha que vou aceitar que dê algum problema? Essa é minha preocupação, mas, se Deus quiser, a gente vai sair bem. Só que está muito atrasado.

Você também agiu na crise do Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, por causa do famoso "chute no traseiro"?
O ministro Aldo Rebelo (Esporte) ficou muito triste, muito chateado com a declaração do Valcke. Eu trouxe o (Joseph) Blatter (presidente da Fifa) aqui. Quando estive no Gabão, falei com o presidente Blatter que ele precisava vir aqui e ele veio. Graças a Deus houve essa união, porque foi indelicada pra chuchu aquela declaração do Valcke. Agora está tudo bem. Pelo menos o bombeiro funcionou, porque o presidente Blatter não queria vir aqui conversar com a Dilma.

Estamos a menos de três meses da Olimpíada. Qual sua opinião sobre a base convocada por Mano Menezes?
A lista teve algumas surpresas, também pelo fato de ele poder usar jogadores acima do limite de idade de 23 anos. Pelo que vimos nesses últimos anos, eu acho que o Arouca deveria ter sido convocado, pelo que vem jogando. O Brasil não enfrenta dificuldades porque tem muitos jogadores bons. Só acho que tem de haver uma decisão, dizer "a equipe é essa" e treinar, senão fica na dificuldade que a profissional está tendo, não tem base. Uma coisa que muitos esquecem, ou melhor, se lembram mas não elogiam: o João Saldanha, que era treinador interino do Botafogo, era jornalista, e o que fez em 70? Estava com dificuldade, pegou os dois melhores times brasileiros, Santos e Botafogo, e fez a base. Depois trouxe Tostão, trouxe Rivellino, mas tinha uma base montada, coisa que nós não temos ainda.

Então o Mano Menezes está devendo?
Falta um ano e meio para a Copa e ainda não temos base, ele está retardando essa decisão. Espero que depois da Olimpíada ele possa fazer um time e o deixe jogar, treinar.

O Neymar prometeu a medalha de ouro para o presidente da CBF...
Você já ouviu falar num tal de Pelé (risos)? Dizem que o Brasil não tem um título olímpico porque o Pelé não jogou. Na época, profissionais não podiam jogar, e eu, com 17 anos, já era profissional. Mas o Brasil tem todas as condições de trazer (a medalha de ouro). Acho que o Neymar vai trazer pra gente.

E na Libertadores, vai dar Santos?
Esse confronto (o da última quinta-feira) com o Vélez é o mais importante. Contra um time argentino, que tem mais experiência. Se passar, com os brasileiros (Corinthians ou Vasco, na semifinal) não tenho muita preocupação, porque eles se conhecem. Mas no futebol nunca se sabe. Quem diria que o Barcelona ficaria fora da Champions League? E, aqui em São Paulo, entrariam Ponte e Guarani nos lugares de Corinthians e São Paulo?

Imagino que o Museu Pelé, que você vem preparando em Santos, seja a realização de um sonho pessoal. Aos 71 anos, ainda há outros?
É aquela história, se você está vivo, vive sonhando. Essa coisa do trabalho com as crianças, com os jovens, é muito importante e é um sonho, um legado ao País que eu gostaria de deixar, a educação das novas gerações. Tenho várias ideias para escolinhas do Pelé, como a Litoral, que eu tenho em Santos. E depois dar prosseguimento a isso com o Edinho, que já é treinador lá no Santos. Já deixei o DNA lá, né (risos)? O Edinho não teve a sorte que o pai teve, porque quebrou o joelho num jogo com o Palmeiras, mas está no Santos agora como auxiliar técnico.

Qual será a peça principal do seu museu?
Tem tanta coisa importante... Tem o troféu de atleta do século, tem peças de ouro, brilhantes, esmeraldas, como a coroa que eu recebi lá de Minas. Tem também a caixa de engraxate, com um valor sentimental muito grande. E junto com ela, os primeiros 400 réis que ganhei engraxando sapatos dos amigos do meu pai, que jogavam no BAC (Bauru Atlético Clube). Eu entreguei o dinheiro para o meu pai. Minha mãe guardou esse dinheiro e a caixa de engraxate. Eu tinha 12, 13 anos. O valor disso é inestimável.

Quem você vai convidar para a inauguração do museu?
Tem tanta história, tanta gente, que ainda não dá para saber direito. Mas vai ser um chamariz de turismo muito grande para Santos. E durante a Copa, muita gente deve visitar.

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