PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

RIO DE JANEIRO TERÁ CAMPANHA PARA ENSINAR BONS MODOS AOS CARIOCAS NA OLIMPÍADA DE 2016.

FONTE: http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2012/10/os-preparativos-para-os-jogos-no-rio.html

Preparativos incluem uma campanha de civilidade e cursos para melhor receber os turistas.

MARTHA MENDONÇA
DE OLHO NA ETIQUETA A recepcionista Anayara Santana, que trabalha no hotel Copacabana Palace. Ela fez cursos de inglês, etiqueta e diversidade cultural (Foto: Zô Guimarães/ÉPOCA)

O Rio de Janeiro é uma das cidades mais gentis do mundo. Numa pesquisa sobre o assunto feita pela Universidade Estadual da Califórnia, a capital fluminense chegou em primeiro lugar num ranking de 23 metrópoles – entre elas, Nova York, Madri, Viena, Xangai e Copenhague. O foco da pesquisa, que privilegiou na amostragem cidades representativas de diferentes culturas e localizações geográficas, era ajudar na rua turistas em dificuldade. Nesse quesito, os cariocas se mostraram mais solícitos que vienenses, madrilenhos ou nova-iorquinos.

Ponto para o Rio, cujos cidadãos, no Brasil, já têm há muito tempo reputação de hospitaleiros. Para abrigar eventos como a Olimpíada 2016 e a Copa do Mundo de 2014 – e, em 2013, a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude, para a qual é esperado 1 milhão de turistas –, gentileza só não basta. É preciso se livrar de hábitos ruins, como jogar lixo nas ruas, urinar na calçada ou fechar os cruzamentos no trânsito.

Inspirada no exemplo de Pequim, a prefeitura do Rio criará uma campanha de conscientização para mudar comportamentos desagradáveis dos cariocas. “Temos de cuidar do legado intangível, aproveitar os eventos que a cidade sediará e acabar com hábitos ruins dos cidadãos do Rio”, diz o prefeito Eduardo Paes. “Não queremos que o carioca pare de jogar lixo nas ruas somente durante a Olimpíada. Queremos que pare de jogar lixo para sempre.” Hoje, no Rio, a limpeza das ruas custa R$ 550 milhões anuais.

A inspiração é Pequim, cidade cujos habitantes não sabiam formar fila e tinham o hábito de cuspir no chão. Pouco antes da Olimpíada de 2008, foi feita uma campanha para mudar esses comportamentos. Eles não sumiram completamente, mas foram bastante reduzidos, segundo pesquisas. Em Londres – onde a principal queixa dos turistas é o ar esnobe dos ingleses –, foram treinados 70 mil voluntários como anfitriões. Espalhados por aeroportos, restaurantes e locais turísticos, eles procuraram receber os turistas como quem recebe uma visita em casa. No Rio, existe um código de posturas do cidadão, que prevê punição para comportamentos desagradáveis.
Segundo uma pesquisa, o cidadão carioca sabe o que faz de errado – mas acha que o erro é sempre dos outros

Civilidade não é algo que se consegue por decreto. “O carioca precisa se conscientizar dos ganhos de cidadania que essas transformações trazem para todos nós, além, é claro, dos ganhos turísticos”, diz a socióloga Tereza Lobo, presidente da ONG Rio Como Vamos. Ela tem feito pesquisas de percepção dos cariocas acerca deles mesmos nos últimos anos. “O resultado é que o cidadão do Rio sabe muito bem o que faz de errado”, afirma. Segundo a pesquisa da Rio Como Vamos, os principais problemas dos cariocas, de acordo com os próprios cariocas, são mesmo o lixo na rua, a urina na calçada e a falta de civilidade no trânsito. “As pessoas sempre citam tais comportamentos como erros dos outros, nunca delas mesmas”, afirma Tereza.

Antes mesmo de a campanha da prefeitura começar, há cariocas preocupados em adquirir posturas cidadãs. Aberlan de Jesus, de 28 anos, trabalha como ambulante nas areias de Ipanema há nove. Chapéu de palha e óculos escuros para proteger o rosto, ele vende cangas e vestidos de praia. Carrega duas grandes araras de produtos coloridos, percorrendo várias vezes a orla. Nasceu na Bahia, mas se classifica como carioca. “Vim para cá com meses de idade e nunca mais saí. Sou daqui, amo o Rio”, afirma. Como quem ama cuida, Aberlan leva consigo, nas caminhadas diárias, um saco plástico para recolher o lixo da praia – espetos, cocos, papéis de sorvete, copinhos de mate. Às vezes, enche vários saquinhos por dia. E dá força para os colegas ambulantes fazer o mesmo. “A praia é nosso escritório. Se ela estiver limpa, atrai turistas. São eles, cada vez mais, que colocam comida na minha mesa. Sem falar que esse colírio aqui não merece ficar sujo.”

Boa parte da população ainda não age segundo os princípios do cidadão consciente. Uma confusão recente na Praia de Ipanema envolveu um conflito da Guarda Municipal com banhistas que jogavam altinho na praia (altinho é um jogo tipicamente carioca, uma variação do futebol jogada à beira-mar em que a bola não pode cair no chão, mas às vezes escapa e acerta o rosto do banhista). As imagens da insurreição dos frequentadores da praia contra as autoridades policiais, que tentavam evitar o descumprimento da lei – já que altinho, frescobol e futebol são proibidos entre as 8 e 17 horas –, mostram como o carioca ainda precisa caminhar no aprendizado do bem coletivo. “Aqui é meu quintal, faço o que quero”, disse um banhista jogador ao guarda. O vídeo da confusão, que correu as
redes sociais na semana passada, recebeu centenas de vezes o comentário: “Imagina na Copa”.
OS BONS DRINQUES Édipo Luiz Ribeiro, que faz curso de bartender. “A palavra de ordem é agradar ao turista, e eu saio ganhando para o resto da vida” (Foto: Zô Guimarães/ÉPOCA)

Da mesma forma que a cidade busca seu “legado intangível”, o carioca quer aproveitar a oportunidade proporcionada pela Copa e pela Olimpíada para dar uma guinada na carreira e na vida. Aprender outros idiomas é um dos primeiros passos. Garçons do restaurante Buon Provare, próximo à Praia da Barra da Tijuca, começaram um curso de inglês especial, de apenas três meses, com vocabulário focado no atendimento. “Já me pediram carne e eu trouxe frango”, diz Amílcar Rodrigues, de 42 anos, garçom há um ano e meio. Sua companheira de trabalho, Sandra dos Santos, de 38, comemora o fim da mímica. “Pega mal para a gente, não dá nem para ser simpática direito”, afirma. O idioma é primordial para uma cidade que pretende ser grande destino turístico. Pouco antes da Olimpíada de Pequim, o governo chinês fez uma campanha pela evolução do inglês falado por lá – conhecido como “chinglish”, e só entendido pelos locais.

A capacitação vai além do idioma. Filha de empregada doméstica, a moradora do Morro do Cantagalo Anayara Santana, de 22 anos, trabalha como recepcionista no spa do Copacabana Palace, o hotel mais festejado da cidade. E quer mais. Para isso, conseguiu meia bolsa de estudos e faz graduação tecnológica em hotelaria no Senac. No curso, aprende inglês, etiqueta, diversidade cultural. “O hotel ficará ainda mais lotado, e preciso mostrar do que sou capaz”, diz. Ali perto, num quiosque à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, Édipo Luiz Ribeiro, de 25 anos, mostra o que está aprendendo no curso de bartender que frequenta há dois meses. Casado e pai de uma menina de 4 anos, morador da Rocinha, ele tem aulas sobre bebidas e técnicas para fazer os drinques mais famosos do mundo. “A palavra de ordem é agradar ao turista”, diz. “E saio ganhando para o resto da vida.” Édipo também quer aprender inglês e francês. Por enquanto, diz, não sai do “embromation”. Acredita que, com um salário um pouco mais alto depois de concluir a especialização em bartender, poderá pagar um curso de inglês.

A capacitação dos profissionais que interagem com os turistas é o ponto-chave. “Quem receberá o turista não é o prefeito nem o agente de viagens. É o taxista, o garçom, o recepcionista do hotel. São eles que podem tornar uma viagem perfeita”, diz Francine Xavier, gerente do Senac. Para preparar a cidade para a invasão estrangeira, o Senac, com recursos do Ministério do Turismo, e a própria prefeitura do Rio começam a oferecer cursos de diversos níveis – alguns gratuitos. “Tudo depende de cada cidadão”, afirma Francine. A ideia de que toda a população precisa estar preparada profissional e pessoalmente é o que pode tornar o Rio um destino turístico para além dos grandes eventos – e, ao mesmo tempo, dar a quem mora na cidade um grande destino.

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