O projeto de privatização do Maracanã prevê a demolição de uma das melhores escolas do Rio de Janeiro. A Escola Municipal Friedenreich, que fica ao lado do estádio, foi considerada a sétima melhor instituição pública de ensino para alunos de 1ª a 5ª séries do Estado. Porém, por causa da concessão do complexo esportivo do Maracanã, deve ser posta abaixo.
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
- Escola Municipal Friedenreich é sétima melhor do Estado, mas dará lugar a quadras para Olimpíada
A demolição consta na lista de obras que terão de ser feitas pelo futuro
administrador do Maracanã para tornar o estádio e seus anexos um “grande centro
de entretenimento”, conforme plano do governo do Rio. Segundo esse mesmo plano,
o que hoje é a escola será transformado em duas quadras para aquecimento de
atletas anexas ao ginásio do Maracanãzinho. Já o que será dos alunos que estudam
ali não se sabe.
“Estamos perplexos”, resumiu Carlos Sandes Ehlers, pai de Beatriz da Costa
Ehlers, aluna da Friedenreich. “Tenho uma filha que estuda aqui e outra que já
estudou. A escola é considerada modelo, mas o governo simplesmente diz que vai
demolir.”
PRIVADO POR R$ 7 MILHÕES POR ANO
- O governo do Rio de Janeiro divulgou as primeiras informações sobre o processo de privatização do Maracanã. A administração do estádio será repassada à iniciativa privada no ano que vem, antes da reinauguração da arena, prevista para fevereiro. Pela concessão, o Estado do Rio de Janeiro ganhará cerca de R$ 7 milhões por ano.
Carlos é professor, mas leciona em escolas privadas. Segundo ele, a Escola
Friedenreich tem recursos que mesmo escolas particulares não dispõem. Ela
oferece aulas de artes, música, inglês e uma estrutura completa para seus
alunos. Mesmo assim, ele não sabe dizer até quando tudo isso estará à disposição
de sua filha e outros 400 estudantes do Rio.
Desde 2007, quando a cidade sediou os Jogos Pan-Americanos, rumores sobre a
demolição incomodam estudantes e seus pais. Naquela época, disse Carlos, já
havia sido cogitada a retirada da escola da área do Maracanã, mas nada
ocorreu.
Em 2010, quando o Maracanã entrou em reforma para a Copa do Mundo, o assunto
novamente veio à tona. Carlos e outros pais de alunos chegaram a procurar o
Ministério Público em busca de mais informações a respeito da obra. No início
deste mês, foram informados pelo promotores que, segundo ofício enviado pela
Secretaria de Obras do Estado do Rio de Janeiro, a reforma do estádio não
afetaria a escola.
Menos de um mês depois, entretanto, a minuta do edital de concessão do
Maracanã à iniciativa privada confirmou a intenção do governo de demolir a
Friedenreich. Embora o documento ainda possa sofrer alterações já que está em
consulta pública, ele inclui a área da escola em um projeto essencial para que o
Maracanãzinho possa sediar jogos de vôlei da Olimpíada de 2016. Isso porque, sem
quadras de aquecimento, o ginásio não atende exigências olímpicas.
“Para receber Copa e Olimpíada, o governo faz de tudo. Mas o que a população
precisa mesmo é educação, não de jogo de futebol”, critica Carolina Martins
Araújo, mãe de Juliana Araújo Ribeiro, aluna da Friedenreich. “Educação não é
prioridade para o governo.”
Carolina é contra a demolição da escola, mas condena ainda mais a falta de
informações. No projeto de privatização do Maracanã, estão previstas a demolição
de outros equipamentos púbicos como o Parque Aquático Júlio Delamare e o Estádio
de Atletismo Célio de Barros. No caso dos centros esportivos, entretanto, já
está garantido que eles serão reconstruídos em uma área próxima a de hoje. No
caso da escola, nada foi definido.
HOMENAGEM A ÍCONE DO FUTEBOL
- A Escola Municipal Friedenreich homenageia em seu nome o jogador Arthur Friedenreich (1892-1969). O atleta foi um dos ídolos do futebol brasileiro nas décadas de 1920 e 1930. Filho de imigrante alemão e uma lavadeira negra, Friedenreich foi um dos primeios jogadores mulatos a fazer sucesso no futebol nacional.
A própria diretoria da Escola Municipal Friedenreich desconhece o projeto de
demolição. Procurada pelo UOL Esporte, a diretora Sandra
Russomano disse que não foi comunicada oficialmente de nada.
A Secretaria Municipal de Educação também informou ao UOL
Esporte desconhecer o assunto. Só adiantou que, “caso receba a
informação, vai estudar a melhor solução para alunos e funcionários.”
Apesar da secretaria não ter sido comunicada da demolição, o governo informou
que já está tratando do assunto com a Prefeitura. Em nota, ele declarou que “os
alunos podem ficar tranquilos quanto a ter todas as suas aulas.”
Járdila Gonzaga até tenta ficar tranquila, mas não consegue. Ela estudou na
Friedenreich. Hoje, tem dois filhos que estudam lá. Sem saber o que será da
educação dos dois, ela cobra explicações. “Essa escola tem quase 50 anos. Agora,
simplesmente vai ser demolida? E todo mundo que estuda aqui?
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