No dia 22 de agosto de 2010, Eomar Freitas foi surpreendido por técnicos da Prefeitura fazendo pixações em sua casa e na de seus vizinhos, na comunidade Metrô Mangueira, Zona Norte do Rio de Janeiro. A sigla SMH, que significa Secretaria Municipal de Habitação, era o anúncio de que ele perderia a sua moradia. A favela fica próxima ao estádio do Maracanã, e no projeto de urbanização do entorno sua existência foi ignorada. Hoje o local é um cenário de guerra e as famílias que ainda resistem convivem com toneladas de entulho e lixo.
“Logo no início a Prefeitura ofereceu casas em Cosmos, ir para o abrigo ou pra rua”, disse Eomar. Cosmos fica a 70 km dali e 107 famílias tiveram esse destino, mas as outras resistiram. A organização dos moradores fez com que a Prefeitura recuasse no projeto de levar as quase 700 famílias da comunidade para lá. O grupo seguinte, de 240 famílias, foi reassentado no prédio Mangueira I, na Rua Visconde de Niterói. O edifício, que inicialmente estava destinado à faixa de renda de 3 a 6 salários mínimos, teve que ser destinado aos moradores da comunidade.
O Mangueira II, com apartamentos de 42m², já está finalizado e os moradores não entendem porque a mudança ainda não aconteceu. “O outro prédio já está pronto e eles falam que é burocracia da Caixa”, disse Eomar. A sensação é de insegurança já que a mudança para o Mangueira II deveria ter acontecido em maio. Cerca de 300 famílias ainda aguardam por uma solução convivendo com os usuários de crack que ocuparam os escombros das casas destruídas.
Recentemente, as placas políticas começaram a aparecer presas ao que resta das casas, a maioria do atual prefeito do Rio, Eduardo Paes, candidato à reeleição. “Ele gosta de aparecer, porque até no meio dos escombros ele coloca propaganda. Para ir pra casa ainda por cima tenho que olhar pra esse cara”, disse Eomar ao desviar de um vergalhão. “Olha o perigo que passamos aqui!”, desabafou. A sua casa é a única que ainda está de pé nessa parte da comunidade.
Os moradores do Metrô Mangueira não acreditam que os megaeventos possam ser positivos para a população de baixa renda. “Copa do Mundo e Olimpíadas não é pro pobre”, resume Franci da Costa Souza, presidente da Associação de Moradores local. “Eu acho legal porque gosto de esporte, mas eu sinto na pele”, completou, em frente a sua casa onde o mau cheiro dos escombros incomoda, além de atrair ratos e insetos. Eomar concorda: “A Copa do Mundo não é pra nós, é pra eles, prefeito, governador. Não temos condições de pagar 400 reais no ingresso”, finalizou.
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