Com entrada do governo no comitê organizador local, entidade avalia que obras nos estádios ficarão prontas a tempo. Mas Blatter já avisa: isso vai custar caro.
Giancarlo Lepiani
Valcke e Ronaldo nas obras da Arena Amazônia: estádio acima do preço - Divulgação/Fifa
A advertência de Blatter pode ser comprovada nas próprias sedes visitadas por Valcke nesta semana. Cuiabá e Manaus têm seis obras ligadas à Copa. Quatro estão fora do prazo inicial. Somadas, custarão 1,4 bilhão de reais a mais do que o prometido
Há cerca de três meses, a Fifa avaliava que a Copa do Mundo de 2014 estava sob risco. Num relatório interno, apontava que nada menos que cinco dos doze estádios previstos para o Mundial estavam com obras fora do prazo. A entidade que controla o futebol não escondia sua insatisfação com a maneira como os trabalhos eram conduzidos pelos brasileiros. E seu presidente, Joseph Blatter, ainda tinha de lidar com a animosidade entre seu principal auxiliar, o francês Jérôme Valcke, e as autoridades do país. Desde então, a situação do Mundial no país mudou de forma espantosa. Convencidos de que o fracasso da Copa no Brasil seria um desastre para as duas partes, Joseph Blatter e a presidente Dilma Rousseff costuraram uma aproximação e decidiram tomar as rédeas do processo, através de uma intervenção no Comitê Organizador Local (COL). Nesse intervalo, por coincidência, foi lançado o slogan oficial da Copa, "Juntos num só ritmo". O lema parece ser seguido à risca pelos encarregados de conduzir os preparativos para 2014: nesta semana, Valcke visitou o país ao lado dos representantes do COL e fez uma descrição altamente favorável da situação. Que não se pense, porém, que os problemas estão totalmente superados. A Fifa acredita que a Copa enfim entrou nos trilhos, mas acha que o país ainda cometerá equívocos - e que, no fim, acabará pagando uma conta maior do que se esperava.
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Na tarde de quinta-feira, no Rio de Janeiro, o secretário-geral Valcke encerrou sua viagem pelo Brasil pintando um quadro surpreendente para 2014 (pelo menos para quem, poucos meses antes, provocou uma guerra verbal com o infame episódio do "chute no traseiro"). "Os problemas do início já acabaram", decretou o francês, acompanhado de Ronaldo, que o escoltou nas visitas às obras em Manaus e Cuiabá. "Isso significa que atingimos velocidade de cruzeiro e estaremos prontos a tempo. O ritmo em que entramos é o ritmo de que nós precisamos para que os estádios fiquem prontos até o fim de 2013 ou o começo de 2014." Presente na reunião que decidiu pela entrada de Luís Fernandes, secretário-executivo do Ministério do Esporte, no COL, Valcke se disse satisfeito com os efeitos das mudanças na estrutura do comitê - disse que, desde então, "trabalhou-se mais" e "as coisas passaram a funcionar melhor". "Antes, tudo era lento. De repente, talvez pela pressão sentida com a contagem regressiva para o evento, surgiu uma consciência de que as coisas precisavam avançar." Na passagem por Manaus, o francês chegou a reivindicar os méritos pela mudança de cenário: "Houve um momento de forte crise, provocada por mim, mas a vantagem disso é que atingimos um nível de cooperação sem igual", disse. "Hoje, não há nenhuma obra em zona crítica, nenhuma em vermelho", completou ele na passagem pelo Rio.
Na tarde de quinta-feira, no Rio de Janeiro, o secretário-geral Valcke encerrou sua viagem pelo Brasil pintando um quadro surpreendente para 2014 (pelo menos para quem, poucos meses antes, provocou uma guerra verbal com o infame episódio do "chute no traseiro"). "Os problemas do início já acabaram", decretou o francês, acompanhado de Ronaldo, que o escoltou nas visitas às obras em Manaus e Cuiabá. "Isso significa que atingimos velocidade de cruzeiro e estaremos prontos a tempo. O ritmo em que entramos é o ritmo de que nós precisamos para que os estádios fiquem prontos até o fim de 2013 ou o começo de 2014." Presente na reunião que decidiu pela entrada de Luís Fernandes, secretário-executivo do Ministério do Esporte, no COL, Valcke se disse satisfeito com os efeitos das mudanças na estrutura do comitê - disse que, desde então, "trabalhou-se mais" e "as coisas passaram a funcionar melhor". "Antes, tudo era lento. De repente, talvez pela pressão sentida com a contagem regressiva para o evento, surgiu uma consciência de que as coisas precisavam avançar." Na passagem por Manaus, o francês chegou a reivindicar os méritos pela mudança de cenário: "Houve um momento de forte crise, provocada por mim, mas a vantagem disso é que atingimos um nível de cooperação sem igual", disse. "Hoje, não há nenhuma obra em zona crítica, nenhuma em vermelho", completou ele na passagem pelo Rio.
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Tudo resolvido, portanto? Na avaliação de Blatter, muito longe disso. Em uma entrevista divulgada na manhã desta sexta, poucas horas depois das declarações de Valcke, o suíço foi muito menos diplomático que seu auxiliar e voltou a falar abertamente sobre as falhas brasileiras - desmentindo, inclusive, a avaliação do secretário-geral sobre o possível efeito benéfico de suas palavras duras contra o país. Falando à agência de notícias France-Presse, Blatter disparou: "Aos brasileiros não falamos mais nada, porque não funciona mesmo". Para o presidente da Fifa, o que provocou o avanço das obras não foi o episódio do "chute no traseiro", mas sim a interferência direta dele e de Dilma. "O que mudou foi a introdução de um integrante do governo no comitê local. Não se pode organizar um Mundial sem representantes do governo para a segurança, as telecomunicações, infraestrutura, estradas, trens, aviões." O cartola se mostrou aliviado ao receber a versão mais recente do relatório técnico sobre 2014. "Já não existem arenas em vermelho, há muito poucas em amarelo e muitas em verde." Mas o presidente da Fifa não escondeu o que pensa sobre a reta final dos preparativos para a Copa: "Os brasileiros enfrentarão problemas internos. As obras serão mais caras do que o previsto, mas serão concluídas". Blatter emendou com uma frase que não deixa dúvidas sobre as dúvidas e desconfianças da própria Fifa sobre a chance de sucesso do Mundial: "Imaginem, uma Copa do Mundo no Brasil!"
Tudo resolvido, portanto? Na avaliação de Blatter, muito longe disso. Em uma entrevista divulgada na manhã desta sexta, poucas horas depois das declarações de Valcke, o suíço foi muito menos diplomático que seu auxiliar e voltou a falar abertamente sobre as falhas brasileiras - desmentindo, inclusive, a avaliação do secretário-geral sobre o possível efeito benéfico de suas palavras duras contra o país. Falando à agência de notícias France-Presse, Blatter disparou: "Aos brasileiros não falamos mais nada, porque não funciona mesmo". Para o presidente da Fifa, o que provocou o avanço das obras não foi o episódio do "chute no traseiro", mas sim a interferência direta dele e de Dilma. "O que mudou foi a introdução de um integrante do governo no comitê local. Não se pode organizar um Mundial sem representantes do governo para a segurança, as telecomunicações, infraestrutura, estradas, trens, aviões." O cartola se mostrou aliviado ao receber a versão mais recente do relatório técnico sobre 2014. "Já não existem arenas em vermelho, há muito poucas em amarelo e muitas em verde." Mas o presidente da Fifa não escondeu o que pensa sobre a reta final dos preparativos para a Copa: "Os brasileiros enfrentarão problemas internos. As obras serão mais caras do que o previsto, mas serão concluídas". Blatter emendou com uma frase que não deixa dúvidas sobre as dúvidas e desconfianças da própria Fifa sobre a chance de sucesso do Mundial: "Imaginem, uma Copa do Mundo no Brasil!"
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1,4 bi a mais - A advertência de Blatter sobre os custos maiores que o esperado pode ser comprovada nas próprias sedes visitadas por Jérôme Valcke. O secretário-geral afirmou ter ficado satisfeito com o ritmo dos trabalhos e se disse confiante na entrega das arenas de Manaus e Cuiabá. Quem paga a conta, no entanto, é o contribuinte do país-sede. Na capital do Amazonas, a arena da Copa era uma das mais atrasadas no início do ano. A obra ganhou um reforço de operários e teve seu ritmo acelerado. Em julho, chegou a 46% de sua conclusão. Mas prazo de entrega fixado em 2010 (dezembro de 2012) não será cumprido (a previsão atual é junho de 2013) e o preço do estádio já subiu mais de 35 milhões de reais (de 515 milhões para 550,7 milhões). E isso mesmo depois da intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU) - no começo do ano, constatou-se um sobrepreço de 86 milhões de reais no orçamento do estádio, que custaria 618 milhões. O relatório do TCU provocou a suspensão da linha de crédito que financia a maior parte do custo da arena (cerca de 400 milhões de reais). O governo do estado e a empreiteira Andrade Gutierrez só voltaram a receber os repasses federais depois de uma revisão nos contratos. Somadas, Cuiabá e Manaus têm seis grandes obras ligadas à Copa. Quatro delas estão fora do prazo de entrega apresentado pelo governo e pelas cidades-sede em janeiro de 2010. Há dois anos e meio, o custo total dos trabalhos era de 3,18 bilhões de reais. A previsão atual é de um gasto de 4,58 bilhões, ou 1,4 bilhão a mais do que se prometia - tudo conforme Blatter diz na sua entrevista desta sexta.
1,4 bi a mais - A advertência de Blatter sobre os custos maiores que o esperado pode ser comprovada nas próprias sedes visitadas por Jérôme Valcke. O secretário-geral afirmou ter ficado satisfeito com o ritmo dos trabalhos e se disse confiante na entrega das arenas de Manaus e Cuiabá. Quem paga a conta, no entanto, é o contribuinte do país-sede. Na capital do Amazonas, a arena da Copa era uma das mais atrasadas no início do ano. A obra ganhou um reforço de operários e teve seu ritmo acelerado. Em julho, chegou a 46% de sua conclusão. Mas prazo de entrega fixado em 2010 (dezembro de 2012) não será cumprido (a previsão atual é junho de 2013) e o preço do estádio já subiu mais de 35 milhões de reais (de 515 milhões para 550,7 milhões). E isso mesmo depois da intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU) - no começo do ano, constatou-se um sobrepreço de 86 milhões de reais no orçamento do estádio, que custaria 618 milhões. O relatório do TCU provocou a suspensão da linha de crédito que financia a maior parte do custo da arena (cerca de 400 milhões de reais). O governo do estado e a empreiteira Andrade Gutierrez só voltaram a receber os repasses federais depois de uma revisão nos contratos. Somadas, Cuiabá e Manaus têm seis grandes obras ligadas à Copa. Quatro delas estão fora do prazo de entrega apresentado pelo governo e pelas cidades-sede em janeiro de 2010. Há dois anos e meio, o custo total dos trabalhos era de 3,18 bilhões de reais. A previsão atual é de um gasto de 4,58 bilhões, ou 1,4 bilhão a mais do que se prometia - tudo conforme Blatter diz na sua entrevista desta sexta.
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